palavras de mim
não me custa ser como sou
no entender do direito do outro
a ser diferente de mim e aceitá-lo
como coisa natural de sermos muitos
diversos e comunicantes por natureza
não me custa ser como sou
não sei de outro modo de ser
nem me imagino a sê-lo
sou eu sessenta e três anos depois
não sei quantos antes
o incomodado que incomoda
o caminho aproxima-se do fim
por força das leis que me trouxeram aqui
nada peço nada me peçam senão
o continuar a ser esta coisa de carne e osso
com muitas ganas de fazer de olhos abertos
e uma noção de justiça difícil de calar
vou por meus pés até onde puder
contra a maré se necessário
mas quem diz que maré cheia não é
vazia de sentido?
(torreira; regata do s. paio; 2012)


Gosto das tuas palavras, a provar que, afinal, o cravo vermelho não está nu à espera do que à praia der, mas vestido de palavras de Ser assim, igual a si próprio, caminhando pelos próprios pés até onde for possível,e remando contra marés de Não Ser, bem acordado, e com muitas ganas de fazer sentido.