a cacilda


                                                             cacilda brandão; 2010

a cacilda

da família dos brandões, filha do ti chico brandão e irmã de homens de mar e da ria, conheço-a há muitos anos.

sempre bem disposta, sempre pronta para os trabalhos mais duros, faz de todo e qualquer trabalho que um homem de terra faça, com uma vantagem: tem sempre um sorriso no rosto.

se o sorriso e a boa disposição fossem peixe, em qualquer companha que a cacilda trabalhasse o saco vinha sempre cheio

(torreira- companha do marco_2010)

agostinho trabalhito


                                                    agostinho trabalhito (canhoto): 2010

 

do agostinho trabalhito (canhoto) muito haveria que contar, mas fico-me pelos últimos anos.

trabalhou na companha do falecido zé murta e trabalha agora na companha do marco. a corda ao pescoço serve para atar a manga antes do calão e, assim, impedir que alador “coma” e quebre o calão.

pelo caminho lavou pratos num restaurante e dedica-se à pesca à cana (ainda de bambu) para apanhar peixe mais “grosso” que aumente a dispensa da família ou para vender aos restaurantes.

dos muitos irmãos que tem não posso deixar de recordar dois já falecidos: o zé trabalhito e ti antónio trabalhito, ambos homens de mar, ambos homens da torreira

( torreira_companha do marco_2010)

alar com padas (III)


padas e léo (2010)

 

pai e filho (padas e léo) vão alando a rede, espreitando a ver se, ainda na água já se distingue algum choco ou linguado.

por vezes são apanhados com enxalavar quando se prepara para fugir mesmo na beira do barco.

em tempo de fartura de choco, ele é vendido ao comprador com quem têm contrato a 3€ o kg, quando começa a escassear às vezes lá chega perto dos 5€. O comprador ainda desconta no peso, dependendo da quantidade, até 1kg para a água que pode vir no latão.

quanto ao linguado, acreditem que é verdade, nunca ultrapassa os 5€ o kg, mas raramente lá chega.

para que saibam que quem ganha não é o pescador e quem sofre no preço de tanta intermediação é o consumidor, que pensa que os pescadores têm de viver bem.

façam as contas ao que pagam, no mercador, no supermercado e nestas referência que vos deixo.

(ria de aveiro- canal de ovar)

antónio tabalhito (barbeiro)


antónio trabalhito (barbeiro); 2005

 

chamava-se antónio trabalhito, mas era mais conhecido pelo antónio barbeiro. ia a casa de quem quisesse, fazia barbas e cortava cabelos.

homem de mar, andou pelo bacalhau e ajudou o marco a lançar-se com a sua companha.

era um bom amigo, o nosso tratamento era por tu. há anos tinha sido operado ao coração e ultimamente fazia uma vida recatada.

foi ontem a enterrar, mas ainda consigo ouvir a sua voz e vou ouvi-la durante muito tempo.

onde quer que estejas antónio, ensina-os a pescar.

abraço do teu sempre amigo

cravo

( torreira – companha do marco 2005)

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colher com o joão padas (I)


padas e léo brandão; 2010
os últimos são os primeiros.

e é verdade, a primeira vez que fui à ria fotografar a arte da solheira, foi com o joão padas.

neste registo é o filho léo que vai ao motor a conduzir a bateira, o que espanta para quem embarca pela primeira vez é o saber onde a bóia. mas os pescadores, todos os pescadores, para além de um sentido apurado de orientação têm sempre referenciais em terra que os ajudam a localizar a primeira bóia.

os próximos registos testemunham como a família participa no alar das redes.

(ria de aveiro _ canal de ovar)

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do safar ao alar


e vieram alguns linguados, poucos; 2010

entre o largar a rede, mal a maré começa a encher, e o alar do aparelho, não chega por vezes a uma hora.

é preciso que a maré não “corra” muito, arrastando limos e algas de encontro às malhas, tapando-as e impedindo o peixe emalhar.
assim esta pescaria, de surpresa com o trovão, foi coisa de pouco tempo. largámos, parámos a bateira por um bocado, e quando a água começou a correr muito, vá de alar.

ainda vieram uns linguados, não sei se meia dúzia, mas é o que ria estava a dar.

(ria de aveiro – canal de ovar – com o alberto trabalhito (trovão)

solheira_o largar (4)


alberto trabalhito_trovão

tudo acontece quando menos se espera.

de passagem pela marina dos pescadores, vejo o trovão, fora de maré, a prepara-se para ir largar.

impossível resistir a mais uma, há sempre mais uma, saída para a ria, só que desta vez fomos 3.

o “mar não trabalhava” e, quando assim é, o trovão faz a solheira e o berbigão.

partimos

(torreira – ria de aveiro – canal de ovar)

solheira_colher (3)


18 andares já foram

o aparelho da solheira, como já devo ter dito algures, é constituído por um determinado número de redes – andares – unidos entre si, até um máximo de 20 e que se estende por uma centenas largas de metros.

de oito em oito andares é lançada uma bóia para marcar a posição e servir assim de referência a outras bateiras ao mesmo tempo que nos dá o alinhamento coma bóia inicial.

os andares têm a correr no cimo um tralho de bóias e no fundo um tralho de chumbo – este de acordo com os modelos mais modernos é constituído por uma corda por dentro da qual corre o próprio chumbo.

assim a rede assenta no fundo e nela emalham os peixes – chocos, linguados e, por vezes sarguetas – dos quais os dois primeiros são os verdadeiros objectos de captura

(ria de aveiro – algures no canal de ovar -com o joão costeira)