erguer os pés
poisá-los no
horizonteali
onde ninguém
ninguém
ousará
negar-te
o direito
ao sonho
ali
estenderás os pés
por sobre o mar
e caminharás
em direcção
ao sol
escuta
a fala dos búzios
momentos há em
que o peso
dos dias se
sobrepõe
ao brilho da luz
momentos há em
que o peso da dor
se sobrepõe
à leveza de
estar vivo
momentos há em
que se soubesses
se soubesses mesmo
terias aprendido a voar
partirias então
leve
muito leve
sem peso
de mais nada
que não o de seres
assim
sem que
momentos houvesse em
que o peso
é demais
e carece de fim
(torreira; marina dos pescadores)
COMPANHA DO MUSEU DA TORREIRA
Uma estória para a história
A ideia nasceu em Junho de 2011 em conversa com os pescadores da Torreira, depois de termos chegado à conclusão que muito do que existe na Sala da Ria, do Museu Marítimo de Ílhavo, ter partido da Torreira, onde não existia qualquer espaço onde recolher as memórias da pesca e dos barcos da terra.
De imediato tratei de pedir o registo da designação, o que veio a ser realidade com a emissão do Certificado de Admissibilidade, em anexo.
Durante o mês de Agosto sensibilizei os pescadores para a necessidade de se fazer uma escritura da legalização da Companha do Museu da Torreira – que a dotaria de estatuto legal e da força necessária para negociar com as mais diversas entidades – e que tal tinha como data limite o dia 14 de Outubro, hoje.
Tive o apoio expresso de alguns pescadores e do Reitor da Torreira, Padre Abílio, a quem muito agradeço a forma como divulgou a reunião onde se iria discutir o interesse da existência de um espaço museológico na Torreira e identificar quem seriam os sócios fundadores.
Na reunião pública que teve lugar, em Agosto, na Assembleia da Torreira, cedida pelo Presidente da Junta de Freguesia, a participação de pescadores, apesar dos anúncios em cartazes e na igreja, foi quase nula. Manifestou-se, porém, entre os presentes, o interesse que o “Museu” tinha para a Torreira e a disponibilidade para doarem espólios valiosos.
Na reunião, de cerca de 2 horas, que mantive com o Presidente da Câmara da Murtosa, foi por este desde logo manifestado o seu não apoio à ideia, uma vez que desde 2001 anda a lutar por um Ecomuseu da Ria, a localizar a sul da Bestida, e não fazia sentido um espaço na Torreira, porque já lá tinha sido feito um pequeno investimento – estaleiro para o mestre Zé Rito e uma pequena sala de exposições anexa.
Nunca fui dos que dizem mal por dizer, se falo é porque quero fazer melhor, sempre foi este o meu modo de estar na vida e não é agora que vou mudar.
Anteontem – dia 12 – fui informado de que só existiam documentos de 1 pescador para a realização da escritura, embora existissem pessoas singulares disponíveis para serem fundadores e assumir a sua realização.
Face a isto tomei a decisão, e assumo-a em pleno, da não realização da escritura e de que o projecto “COMPANHA DO MUSEU DA TORREIRA – ASSOCIAÇÃO PARA A MEMÓRIA VIVA DA TORREIRA”, não teria sido mais do isso: a expressão de através de um desejo de uma necessidade sentida por muitos.
Era para ser hoje, não será.
Não quero, no entanto, deixar de agradecer ao Sr. Padre Abílio, Reitor da Torreira, e à D. Carolina, técnica do Cartório Notarial de Estarreja, o empenhamento desinteressado com que se entregaram ao projecto.
A todos os que apostaram neste processo o meu abraço de agradecimento e a certeza de que um dia vai mesmo haver um Museu na Torreira.
Por mim, continuarei a fazer o que sei: coisas.
António Cravo
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ANEXO
“Código de Certificado de Admissibilidade: 0145-7182-0032
Número do Certificado de Admissibilidade: 2011030439
Com o NIPC: 509949533
Firma ou denominação aprovada para os elementos abaixo indicados:
COMPANHA DO MUSEU DA TORREIRA – ASSOCIAÇÃO PARA A MEMÓRIA VIVA DA TORREIRA
Certificado requerido por:
Nome: António José Cravo
Identificação: Bilhete de Identidade – 02043155
Para efeitos de constituição de: Associação de direito privado
Sede: Concelho de Murtosa, distrito de Aveiro
Objecto social:
Promover, recolher e divulgar as artes da pesca e da agricultura tradicionais da vila da Torreira, seus usos e costumes, nomeadamente através da criação e manutenção de um museu onde se possam expor os objectos, as memórias recolhidas e realizar eventos, com a finalidade de revitalizar tradições e memórias, estimular, desenvolver e partilhar o gosto e o valor destas actividades da vida humana.
CAE Principal: 94991
CAEs Secundários:
Condições de validade: “.
Aprovado por: Eduarda Avelar Nobre, Conservador auxiliar
Emitido em: 19-07-2011 10:40:48 UTC
Válido até: 19-10-2011 (inclusive)
Utilização do certificado: Por utilizar”
o momento
o exacto instante em que o sol
se deita sobre as ondas
jamais o fim
o mar permanece e aconchega
as ondas abraçam o sol e deitam-se
cansado do seu percurso
diurno
a tudo isto assiste
de braços abertos
silenciosamente cúmplice o barco
o sol encontra nas ondas
o regaço para tanto andar
assim eu
voltarei ao mar
(despeço-me do óscar miguel)
óscar miguel
era assim
qual gaivota prestes a levantar voo
preparadas as cordas
as redes a caminho
que
de asas abertas o óscar
iniciava os seus voos
era este o seu mar
o leito por onde corria
o sangue de ser barco
a xávega
perdeu um filho
o mar um amigo
e todos ficámos mais pobres
o óscar miguel
era barco
mas é com um abraço
que lhe digo
até às ondas irmão
olho-te nos olhos
e é como se perguntasse:
que fiz eu ?
aqui
onde a vida começa
com o nascer do sol
o queimar do sal
aqui
envelhece-se mais cedo
nas mãos sulcos rasgados
pelas cordas
que puxam as redes e os barcos
escamas de peixe
salpicam-me o rosto
brincar é escolher sardinha
aguentar a picada do peixe aranha
e não chorar
aqui
cresce-se depressa
a trabalhar o mar
(torreira)