o bordão serve nesse momento como passadeira por onde ela corre em direcção ao alador
Mês: Setembro 2011
recuso-me
recuso-me a cantar
o outono
celebrarei sempre
o verão
mesmo se já não
o outono dos poetas
é o pó em cima do piano
onde já não há pautas
para músicas de dança
recuso-me
a dizer que quando os dias
diminuem e a noite cresce
me invade a serenidade
outonal pintada de oiro
pudesse eu sentar-me
ao piano que não tenho
e martelaria nas teclas
o meu grito de raiva
por o verão me ter
mais uma vez abandonado
quero sol e mar
o mais é insosso
conta-se o peixe
o calão e o alador
se
sou
lembro
que me lembro
esquecendo
que me esqueci
a memória
é o esquecimento
do que não nos lembramos
falo deste estar aqui
ainda
sem saber porquê
aceitando o como
fazendo por ser
abraço
os dias e dentro deles
todos os que não esqueci
e nos que esqueci
a memória de o saber
deito-me
medito
e sou
longe de mim
trago no corpo
o sal do verão
bailes de mar
nos olhos
estou vivo
outono dentro de outono
continuo ainda
a ser corpo
virá a chuva
os dias mais curtos
o céu mais carregado
a angústia serena
agora
virá também o oiro
semeado nas vinhas
que não verei
porque longe do mar
tudo
o que é longe do mar
é longe de mim
até estas palavras
o são cada vez mais
(torreira; sol outonal)










