não há liso (o vitor revisitado)


vitor caravela

 
como são longos os dias
longe do mar
olho o teu retrato
e estás de novo ao meu lado
 
um sorriso nos lábios
a alegria de estar aqui
no mar
no nosso mar, vítor
 
há dias em que a tristeza
e a memória
fazem maré cheia
e são ondas e ondas
em que se não vislumbra um liso
 
porque tem de ser assim?
 
vamos resistindo
deixando pelo caminho
amigos, família
a solidão cresce
vítor
 
como são longos os dias
longe do mar
a solidão cresce
vítor
a solidão cresce

quando o mar trabalha na torreira_antonio murta


antónio murta

 
(fala a um amigo que …. )
 

recordo-te

a alar cordas e redes
nas vozes de mando
que ao arrais cabem
nas conversas que tínhamos à beira mar
por entre o rebentar das ondas
e os gritos das gaivotas

recordo o mar

o teu mar
que vi crescer nos olhos
dos pescadores
quando te disseram adeus
regueiras
que lhes rasgavam o rosto
e caíam na terra seca
feitas pedras

recordo-te

há um mar que teima em crescer
dentro de mim
as ondas rebentam-me no peito
gritam-me aos ouvidos o teu nome
não há noite em que te não veja

recordo-te

no silêncio da tua ausência
continuo a ouvir a tua voz

(torreira)