não
não vejo a lua
o sol há muito
que se foi
fiquei só
eu o piano
e a magia da noite
não
não vejo a lua
o sol há muito
que se foi
fiquei só
eu o piano
e a magia da noite
amo
o meu amor não é porém
explicitado em carícias ou volúpias
acolhidas no seio de palavras
metáforas ou onomatopeias
ansiedades frustrações e quejandos
sentimentos
numa linha apenas
encontrar as palavras certas
afiadas prontas a cortar rasgar
desentupir a cegueira de cinzentas
figuras gaspáricas e coélhicas
monstros de spielberg
provocatoriamente depositados
em país longínquo dele e tão nosso
para nos impingirem histórias
do maléfico autor fmi/merkel
parceria infalível em qualquer filme de terror
amo
a limpidez líquida do suor
que ganhou o pão
assim as minhas palavras
com este post inicia-se a publicação de uma série de clips registados durante a vinda de manuel antónio pina à figueira da foz, nos primeiros meses de 2012.
momentos de conversa aberta que nos permitem conhecer o homem.
biografia:
Manuel António Pina (Sabugal, 18 de Novembro de 1943; Porto, 19 de Outubro de 2012) jornalista e escritor, galardoado em 2011 com o Prémio Camões.
O autor licenciou-se em Direito em Coimbra e foi jornalista do Jornal de Notícias durante três décadas. Nos últimos anos de vida foi cronista do Jornal de Notícias e da revista Notícias Magazine.
A sua obra é principalmente constituída por poesia e literatura infanto-juvenil. É ainda autor de peças de teatro e de obras de ficção e crónica. Algumas dessas obras foram adaptadas ao cinema e TV e editadas em disco.
A sua obra está traduzida em França (francês e corso), Estados Unidos, Espanha (espanhol, galego e catalão), Dinamarca, Alemanha, Países Baixos, Rússia, Croácia e Bulgária.”
poema:
“Café do Molhe
Perguntavas-me
(ou talvez não tenhas sido
tu, mas só a ti
naquele tempo eu ouvia)
porquê a poesia,
e não outra coisa qualquer:
a filosofia, o futebol, alguma mulher?
Eu não sabia
que a resposta estava
numa certa estrofe de
um certo poema de
Frei Luis de Léon que Poe
(acho que era Poe)
conhecia de cor,
em castelhano e tudo.
Porém se o soubesse
de pouco me teria
então servido, ou de nada.
Porque estavas inclinada
de um modo tão perfeito
sobre a mesa
e o meu coração batia
tão infundadamente no teu peito
sob a tua blusa acesa
que tudo o que soubesse não o saberia.
Hoje sei: escrevo
contra aquilo de que me lembro,
essa tarde parada, por exemplo. “