o vazio
flutuar
nada é
tudo pode
sonho
flutuo
sorvo
momentos
de
respirar
o vazio
flutuar
nada é
tudo pode
sonho
flutuo
sorvo
momentos
de
respirar
recuso cantar o desejo
sublimado em palavras
no inventar de um corpo
sonho a percorrer
não é este o tempo de
quando tudo escasseia
até o pão da palavra
é ázimo
as ruas estão cheias
de bocas vazias
e tu cantas o corpo
o corpo que, sei lá,
não sabes se terias
trago as pedras da calçada
para o teclado
atiro com elas ao monitor
onde um homem se diz ser de raça
sem que se saiba de que raça é
o raça do homem
que muitas somos
nenhuma a dele porém
o lado negro da luz
é cada vez mais visível:
cortante
duvida
é natural que o sintas
o real começa a deixar de o ser
a beleza é sublime demais
estranho
muito estranho
estranhamento belo
tão estranho
quanto real
tão belo
quanto duro
tão feérico
como viver da ria
é uma existência não existente
uma estranha forma de ser
ave e lavrar a lama
nisto se fazendo gente
pairar sobre as águas
será sonho
mas quem pode evitar
o sonho de voar?
fica na dúvida
guarda-me a teu lado
um lugar
fiquemos assim ambos
sentados sem saber se
é o real que estamos a olhar