o Interesse Nacional


 

 

logo pela manhã

depois de ter respirado o ar puro

do jardim fronteiro à vivenda onde morava

na quinta da marinha

o Interesse Nacional

chamou o motorista

 

sem pressas recostou-se no banco

traseiro

acendeu o primeiro charuto do dia

contemplou o tejo

pressentiu o mundo

 

chegado ao gabinete de onde comandava

os seus investimentos em países diversos

chamou a secretária pediu

o café

a agenda do dia

a correspondência

a síntese dos mercados e da informação

 

contactou os seus servos

soube de perdas e ganhos

aceitou sugestões

ponderou decidiu

como ganhar muito

sentado na cadeira de pele modelo executivo

 

os juros

a dívida

o défice

não lhe facilitavam o negócio

esperava porém que as políticas anunciadas

pelos seus amigos

lhe permitissem multiplicar os ganhos

 

que diabo

afinal

ele era

o Interesse Nacional

 

– veio-me à memória uma canção

de tempos idos e que

a dado passo rezava assim:

. levados, levados sim …

 

até quando?