postais da ria (114)


terror

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(revoltam-me as vítimas de todas as raças
cubro-me com as bandeiras de todos os países
porque em tudo sangue)

 
invadem-te a casa
matam-te os filhos
com o que lhes vendeste
para que aos seus
não aos teus

invadem-te a casa
matam-te os filhos
com o que lhes ensinaste
que aos seus
nunca aos teus

o terror é a guerra à tua porta

o treino foi intenso
o material bem pago
as exportações aumentaram
os indicadores nunca tão bons
os ofchores sorridentes
nunca tanto com tão pouco

em luxuosas salas climatizadas
definem-se estratégias
estudam-se novos negócios
planeiam-se investimentos
procuram-se fornecedores
estrutura-se a rede de distribuição
definem-se percentagens a ofertar
aos agentes dos compradores

o terror é a guerra à tua porta
e isso
também é economia estúpido

ahcravo_DSC_1062

(torreira, uma bateira adormecida)

postais da ria (112)


ontem no mundo

SONY DSC

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ontem em paris
ontem em áfrica
ontem na américa
ontem na ásia

ontem no mundo

a morte esteve nas ruas
invadiu as matas
atapetou os desertos
semeou corpos

a morte enche os dias
do meu tempo
como encheu o tempo
todos os dias
em todas as geografias

a morte pela mão do homem
não poder ser imortal

(ria de aveiro, murtosa; cais do bico)

crónicas da xávega (109)


falo a língua do sal

a escolha é sábia

a escolha é sábia

não digo da pedra
que é água
do vento que areia

digo-te que o que é
não deixa de ser
só porque o nomeias
de forma diversa

lutei pelos dias claros
em todos os olhos
não semeies nuvens
onde sol poisou

falo a língua do sal

saber escolher é saber do ganho

saber escolher é saber do ganho

(torreira; companha do marco; 2012)