desde que

torreira; 2012
traz pela mão
devagar
os teus mortos
senta-os à tua mesa
conversa com eles
como se
depois levanta-te
caminha até ao mar
deixa que os salpicos das ondas
trazidos pelo vento
te molhem o rosto
são estas as tuas lágrimas
desde que
Boa noite, António.
Hoje foi dia de Todos os Santos, amanhã Dia dos Fiéis Defuntos. Eles estão comigo, há já muitos anos, à mesa em dias festivos são uma presença dolorosa. Não falo com eles, apenas a saudade me molha o rosto, num tempo em que estará próximo o meu “adeus”.
Acompanham-me nos retratos, quando entro e quando saio. Quando chego ao meu quarto.
Sempre presentes, não envelheceram, apenas permaneceram e aumentando o seu número.
És um homem de sorte, podes correr para o mar e com chuva ou salpicos do mar podes olhar para o ontem.
Para mim eles são as memorias que não sinto necessidade de cultivar; só a Enorme SAUDADE os mantém vivos, HOJE, os meus mortos ; sem mar, sem salpicos das ondas, apenas com silenciosas lágrimas posso levantar o cálice da vida e sussurrar : Foi bom!
Com um abraço da Amiga
abraço