Mês: Março 2025
os moliceiros têm vela (566)
os moliceiros têm vela (566)
a minha língua é filha e mãe
pare e acolhe é colo e berço
a minha língua é viva
a minha língua tem as portas
abertas às palavras
às gentes às geografias
a minha língua é antiga e jovem
é muitas linguas é rio
rico de afluentes desagua em delta
a minha língua é livre
se acordos quiseram acorrentá-la
oiçam-na migrante na sua terra
a minha língua é pacífica
mais que isso humilde
resigna-se a que dela mal digam
e o façam usando-a
a minha língua já foi e há-de ser
mais que os que a usam
permanecerá no tempo
sorrindo ao mundo portuguêsmente
a minha língua não tem dono
e só é minha porque a uso
não porque me pertença
e tua será se a usares
não mordas a tua língua
o sangue pode sufocar-te
(moliceiro; regata da ria; torreira; 2014)
“Falo de coisas perdidas…” de emanuel de sousa
“o assassínio telecomandado …” de ahcravo gorim
(guache de ana feijão; 45x29cm; março de 2025)
o asssassínio telecomandado
a destruição minuciosa precisa
num novo deserto tendas
erguidas sobre escombros
deixados pelos bárbaros
modernos sofisticados
as crianças o futuro os velhos
o passado restos de corpos
inidentificáveis ensacados
chorados roubado tempo
a voz mais forte que os gritos dá
ordens comanda exércitos cegos
raiva e ódio não é gente o outro
ardem-me os olhos por gaza
ardem corpos em gaza
a humanidade arde em gaza


