os moliceiros têm vela (579)


a eugénio de andrade

não há palavras
interditas perante o horror
netanyahu assassino

bombas e mísseis
lavraram a terra
que o sangue regou

nos escombros de gaza
um braço nasce
uma perna perdeu-se

desumana lavoura esta
semeadura de mortos
colheita de amputados

netanyahu assassino
não há palavras
interditas perante o horror

(moliceiros; regata do emigrante; cais do bico; murtosa; 2014)

os moliceiros têm vela (569)


oração

senhora aqui estou
a pedir por ele pela família
pela empresa a imobiliária que não é

vêdes senhora que televisões
trouxe para que se saiba
do meu sacrifício da minha fé
da nossa crença ancestral

faz tudo por nós pela família
perdoai-lhe se mente
o descaramento o biquinho
as pernas arqueadas de caubói

perdoai-lhe se deixa a palavra
em casa pendurada no cabide
não é por mal senhora é por nós
é pelos encargos pelas casas
pelos clientes pela boa vida

amanhã senhora aí onde me
esperais levo-vos uma oração
por ele que não seja treze
azar na roleta mas sorte na vida
no dia dezoito que domingo é

(moliceiro; murtosa; cais do bico; regata do emigrante; 2013)