construção de um moliceiro (12)


26 de agosto

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em todos os processos há sempre alguém, por vezes muitos, cuja presença silenciosa e trabalho dedicado, torna a obra possível. ninguém fala deles, ninguém deles se lembra, mas sem eles não teria havido obra.

chama-se avelino, para que conste, mas poderia ter muitos nomes, tantos quantos os que não deixaram o nome ligado a qualquer obra.

pinta, serra, varre, ajuda em tudo e em tudo deixa um pouco de si. fala pouco, sorri por vezes, não pára quase nunca.

neste registo, está a pintar o leme que ajudou a fazer, deixando o círculo que o pintor preencherá com o símbolo do mestre construtor.

já pintou as falcas, irá dar bondex no interior do barco, fará o que o mestre lhe pedir. porque ambos se conhecem o suficiente para saberem até onde cada um pode ir.

o mestre zé rito continua a fazer peças de madeira, os pintores decoram bordaduras, painéis, dão ao moliceiro a vida que o torna mais belo ainda.

os que assistimos, e somos sempre muitos, fazemos o que podemos quando nos pedem ou sentimos que podemos ser úteis.

contam-se histórias de vidas e há em todos, excepto no mestre zé rito, um certo nervosismo quando se fala na data de conclusão da obra.

o mestre continua a sorrir, a trabalhar e, quarta-feira, o barco irá pela primeira vez beijar a ria. ele sabe-o e isso basta.

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(torreira; 26 de agosto de 2016)