xávega_naufrágio na praia de mira



nelson monteiro_dono da companha

o barco de mar que se afundou_ sr. dos aflitos

http://sicnoticias.sapo.pt/pais/2012/04/22/embarcacao-de-pesca-tradicional-virou-se-em-mira-com-cinco-tripulantes-a-bordo

O comandante da Capitania do Porto de Aveiro,  Coelho Gil, disse que a embarcação Nossa Senhora dos Aflitos virou-se cerca  das 11:00, junto à praia.

Segundo a mesma fonte, os tripulantes “chegaram à costa pelos próprios  meios”, não havendo ninguém em perigo.

Por volta do meio-dia, os tripulantes, apresentando “pequenas escoriações  e uma dose de hipotermia” dirigiram-se para o hospital de Coimbra a fim  de receber tratamento.

Coelho Gil adiantou ainda que a embarcação tinha sido dada como perdida.

Segundo fonte do Centro de Busca e Salvamento, após o naufrágio foram  enviadas para o local uma embarcação da Polícia Marítima e outra do Instituto  de Socorros a Naufragos, mas os tripulantes já tinham chegado a terra pelos  seus meios e com o auxílio de uma mota de água.

A arte da xávega é um processo de pesca tradicional feita com pequenas  embarcações em que as redes são lançadas ao largo da praia e depois puxadas  para terra por tratores.

(ao telefone com um arrais da praia de mira, soube que o barco meteu água ao apanhar a primeira pancada de mar e que na segunda voltou a acontecer o mesmo, tendo ido ao fundo)

voa


 

voa

 

 

o céu não

é onde dizem

é onde

quiseres que seja

 

estende os braços

não há vazios

em torno de ti

apenas outros braços

ignorando também

que podem voar

 

é tempo de roda

e saltar à corda

escorregas e malha

e gargalhadas soltas

 

voa

 

(skim board; buarcos)

a minha ria


estranha beleza esta

erguida sobre

moribundos fundos

poluídos

contaminados

pela ganância do lucro

 

cantem a ria

cantem-na sim

depois de a terem silenciosamente

assassinado

cúmplices

no terem estado aqui sempre

 

vendam os postais

falem das belezas que queiram

exibam-se nas fotografias

nas ruas e nos largos

mas é de lodo

lama e podridão que falo

 

digo:

esta já não é a ria

que me viu crescer

 

esta é a ria onde ainda

há homens que colhem o pão

amargo e amargos

de se saberem tão pouco

nos actos de quem

tanto deles a barriga enche

 

esta é a ria

que me deixaram

mas que não deixo

 

(torreira; marina dos pescadores; maré cheia)

o mar ignora-nos


 

quão pequenos somos

para menos ainda

nos fazermos

 

desconheço

outros caminhos

que não os por mim

abertos

 

aprendi

a dizer não

se para mim sim

 

sendo sempre

eu

nada mais que isso

eu

e tantos em mim

 

pescadores

digo

dos meus

orgulho de ser

deles

um

 

quão pequenos somos …

imenso o mar

ignora-nos

 

(torreira; companha do marco, 2010)

 

inventam-se


inventam sem pressas

os dias por onde

o sol

se bebe

 

alimentam-se

de memórias e espanto

são a espera

depois de terem sido

o assobiar às ovelhas

as hortas por regar

as batatas o centeio

o queijo

 

dão-lhes cadeiras

com vista para o futuro

e ele é o sol

 

sorriem ainda

ao verem-se na serra

onde já não

 

inventam-se

 

(covilhã)

alegria de ser


 

chegaste onde

a alegria de

quantos sorrisos são?

 

conseguiste

eu sei

isso basta

é tanto

é mais do imaginavas

 

sorris muito

sorris como nunca

sorris por dentro

do sorriso

aí és mais tu

és

 

o segredo do como

o suor e o sangue

as lágrimas

o domar do corpo

tudo isso agora

nada é já

 

sorris

és a alegria de ser

 

(figueira da foz; cae; jardins de inverno 2012)

feira medieval de buarcos_páscoa 2012_os rostos


isabel baptista

olha as pedras

as runas nelas

inscritas

manuseia-as

 

há algo de estranho

no seu olhar

 

as pedras

colhi-as no meu rio

 

celtas os caracteres

rituais

escritos a sangue

são agora memória

e símbolo

 

de olhos fechados

apanhei uma pedra do cesto

com a runa do dia

o significado, perguntei

 

encontro e amor

 

de tudo isso se tinha feito

o meu dia

sorte?

coincidência?

 

que importa

a runa falou

e disse a verdade