a minha ria


é esta a minha ria
a da sobrevivência
das artes
aqui
homem e mulher
são camaradas
em tudo
iguais

o pão que comem
colheram-no
ambos
da mesma fonte
 
é esta a minha ria
a da resistência
da solidariedade
a que nem todos vêem
a que alguns mataram conscientemente

mas que é
a mais bela ria
do mundo

(murtosa; cais do chegado; carregar caranguejo)

do poema e de ti


do fogo

desenha uma letra
fá-lo com ternura
as letras
são sensíveis
muito

uma a uma vai-as desenhando
e juntando
como se fossem esqueleto
de coisa viva
as palavras são

há música
quando lentamente
soletras as palavras
a que as letras deram corpo
vês têm vida as letras

ouves-te no que lês?
és tu por dentro delas?
cada vez mais vivas
as palavras sorriem-te
como ninguém o sabe

estás mais leve
disseste-te
temes porém
o não teres sido ainda
é esse o encanto
da vida

(buarcos e era natal)

as mãos ainda e sempre


falo agora de outra escrita
de outras letras
de outras linhas
de outro poema
da vida

ainda e sempre
as mãos
serão destino dos olhos
construtoras de caminhos
e carícias
fábricas de pão
fêmeas
 
rudes e ásperas
ternas e solidárias
as mãos
rasgadas pelos sulcos
da ria
do mar
da terra
 
são ainda mãos
mães de pai de mãe
de dar
as mãos
 
olho-as
guardo-as no fundo de mim
para tas ofertar
como se oiro
como se sol

as mãos

(torreira)

cultura avieira e Projecto Comenius – We Are What We Eat (WAWWE)


A Escola Profissional do Vale do Tejo de Santarém (EPVT) promoveu um encontro de alunos e de professores de várias escolas da União Europeia, no âmbito do desenvolvimento do Projecto Comenius – We Are What We Eat (WAWWE) que visa debater hábitos alimentares saudáveis nas escolas.

No âmbito da temática “Gastronomia enquanto agente identitário das comunidades” foi o Projecto da Cultura Avieira convidado para fazer uma apresentação do seu ideário e dos seus objectivos, no decurso dos trabalhos deste encontro internacional, que juntou comunidades de Portugal, Bélgica, Grécia, Itália e Polónia.

Dessa acção vos damos conta na presente Folha Informativa.

 

O gabinete de coordenação

(Projecto de candidatura da cultura Avieira a património nacional imaterial e da Unesco)

FOLHA Nº15-2012_O projecto educativo europeu Comenius e a cultura Avieira

barco de mar


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sábias mãos
do mar conhecedoras
foram concebendo o barco
a pedido
que é o mar que pede o barco
que o homem pede ao mestre

de mestre a aprendiz
de geração em geração
do diálogo entre mar e homem
homem e mar
o barco cresceu e diminuiu
transformou e se faz
 
engenharia esta de mestrança
onde o cálculo não de régua
mas de pau de pontos
e as peças de moldes herdados
 
que o mar pede o barco
que o homem o sente e o ajusta
que o diálogo o fez
 
barco de mar
do mar da nossa costa ocidental
da pancada
da onda
da mão

(torreira, 2009)

florbela espanca_certidão de baptismo e inédito


certidão de baptismo de florbela espanca

“Verifica-se, por esta certidão, que a Poetisa nasceu em 1894, e não em 1895, como alguns biógrafos assinalam”

(assim consta da nota de rodapé inserta)

foto tirada de:

http://auladeliteraturaportuguesa.blogspot.pt/2010/04/florbela-espanca-perfil-literario.html

um manuscrito inédito, na contra capa da edição de “Sonetos”, em 1960, pela Livraria Tavares Martins

há mulheres aqui


ti miguel bitaolra e rui rapina
dão-se as mãos
dão-se as gerações
no amor ao mar
cresce-se com ele
dentro

atado aos pulsos
marcado nos rostos
salgando os pés
gatinhando na areia
 
no mar se fazem homens
no barco a iniciação das ondas
baptismo a pedido
há mulheres aqui
há mulheres aqui

no esticar da corda
no esforço conjunto
há mulheres aqui
onde a terra acaba
mas os homens não
 
há mulheres aqui

(torreira, 2007)