francisco josé viegas nas quintas de leitura


“A Biblioteca Municipal Pedro Fernandes Tomás recebeu, dia 20 de fevereiro, pelas 21h30, mais uma sessão do projeto de promoção e incentivo à leitura «5as de Leitura», que terá como convidado o escritor, jornalista e editor, Francisco José Viegas, que vem apresentar a sua mais recente obra «A Luz de Pequim» e conversar com o público sobre a sua vida e obra literárias.
 
«A Luz de Pequim» é “um policial brilhante onde o autor grava o seu olhar ácido sobre a ascensão ao poder dos incompetentes e o vazio de valores”. Neste “romance denso e crepuscular”, os leitores vão poder mergulhar nas novas páginas do inspetor Jaime Ramos, que “já se tomou um clássico no quase inexistente género do policial português”.
 
Bio
 
Francisco José Viegas nasceu em 1962. Professor, jornalista e editor, é responsável pela revista Ler e foi também diretor da revista Grande Reportagem e da Casa Fernando Pessoa. De junho de 2011 a outubro de 2012 exerceu o cargo de Secretário de Estado da Cultura.
 
Colaborou em vários jornais e revistas, e foi autor de vários programas na rádio (TSF e Antena Um) e televisão (Livro Aberto, Escrita em Dia, Ler para Crer, Primeira Página, Avenida Brasil, Prazeres, Um Café no Majestic, A Torto e a Direito, Nada de Cultura). Da sua obra destacam-se livros de poesia (Metade da Vida, O Puro e o Impuro, Se Me Comovesse o Amor) e os romances Regresso por um Rio, Crime em Ponta Delgada, Morte no Estádio, As Duas Águas do Mar, Um Céu Demasiado Azul, Um Crime na Exposição, Um Crime Capital, Lourenço Marques, Longe de Manaus (Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores 2005), O Mar em Casablanca, O Colecionador de Erva, A Poeira que Cai sobre a Terra e Outras Histórias de Jaime Ramos e A Luz de Pequim.
 
 
do evento fica o registo possível

memórias da minha coimbra (V)


(alfredo) soveral martins
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coimbra; praça do comércio; 2008

 
a muitos dos que se darão ao trabalho de ler o que se segue este nome nada dirá.
 
a alguns, os mais calejados pelos anos, o nome “centelha” talvez os remeta para quando tinham pouco mais de 20 anos, ou pouco menos, quem sabe?
 
em 1971, chegado de luanda a fugir de perigos vários, continuo os meus estudos no técnico, e a aventura era comprar os livros proibidos pelo regime, nas bancas da associação de estudantes.
 
aí encontrávamos a preços de estudante uns livros pequenos, com obras de marx, lenine e outros, bem como a poesia de manuel alegre a assis pecheco, entre outros, de uma editora de coimbra chamada “centelha”.
 
(a primeira edição de “praça da canção” e a segunda de “o canto e as armas” foi a centelha que as fez.
 
lembras-te do início, manel? )
 
centelha em russo é “iskra”, nome do jornal do pcus.
 
mal imaginava eu, nessa altura, que viria a ser amigo e, um pouco, companheiro do responsável pela editora.
 
já em coimbra, onde cheguei em 1973, conheci o alfredo soveral martins. marginal dos marginais, não era homem de tertúlias, tinha muito que fazer, dizia, e não podia perder tempo em conversas de café.
 
o seu escritório de advogado, que o era para além de assistente da cadeira de “processo civil” na fduc, era também a sede da centelha, o escritório da centelha…. era a centelha.
 
um homem com uma capacidade de trabalho extraordinária.
 
as reuniões da centelha, de que guardo religiosamente o recibo da minha quota de sócio, eram dominadas pelo seu discurso sempre calmo, em voz baixa, com exposições que podiam demorar, mais de meia hora, em que expunha ao detalhe e com uma lógica irrebatível o seu ponto de vista sobre o assunto em análise.
 
colaborei na montagem da livraria e numa ou outra distribuição pela província.
 
o soveral martins foi das personagens que maior influência teve na formação ideológica de muitos estudantes, de entre os quais alguns, mais tarde, viriam a desempenhar funções de relevo na vida política portuguesa.
 
dele, dele ficou uma campa em chãs de semide, marginal como ele.
 
dele fica aqui um testemunho, também marginal, mas despretensioso.
 
ao mestre pede-se licença e agradece-se.