és tu
sim és tu
o mar que conheço
que estremeço entre os braços
aqui
na areia silenciosa e quente
o meu corpo chama por ti
como se chamasse outro
requebras-te
e as ondas são meneios de desejo
na provocação de te amar
ah! mar
amar-te
na minha opinião o moliceiro será um dos mais belos barcos do mundo, digo um dos mais belos porque não os conheço todos, mas certamente será, para além de ser um barco com uma configuração esbelta.
um dos aspectos mais importantes do moliceiro é a decoração, com especial cuidado nas pinturas dos painéis da ré e da proa, num total de 4. teses de doutoramento existem sobre estas decorações, tipologias e significados, tal a importância que revestem na história destes barcos.
este painel da ré do moliceiro a.rendeiro, do ti zé rebeço, da murtosa é, para mim, um dos mais belos que encontrei nos últimos anos: é a história do barco dentro dele mesmo.
a pintura retrata os tempos áureos do moliceiro e fala-nos do que foi, sem saudade, enaltecendo a beleza passada.
deixo-vos esta imagem e nela um pouco da história da ria de aveiro.
(torreira, regata de moliceiros 2011)
uma corda
desce pela parede
dos dias
um raio de sol
espreita
por entre grades
o cimento
cheira a homens
cheira a suor
a sangue
a luta
negras
as vozes erguem-se
nas ruas
os corpos movem-se
ao sabor de danças guerreiras
herdadas
jamais roubadas
sonegadas
branqueadas
pedra a pedra
o cimento caiu
a luz entrou
o muro ruiu
a luta
ainda não terminou
mas o teu dia
madiba
é O DIA
sou a que nunca ficou em casa nunca foi ao mar sou a que ajuda a empurrar o barco a que o espera em terra sou a que escolhe o peixe e entre duas picadas de peixe aranha se levanta e nasce na areia um outro rio sou a mãe a mulher a filha a viúva sou a mulher da arte que a arte não lembra
(torreira; anos 90)