ninguém as vê


sentam-se logo pela manhã

atrás dos vidros

acordam os pássaros fronteiros

 

fazem a lide

a renda e a roupa

falam sozinhas

(ouve-se ao longe a rádio)

 

abrem a janela

trocam notícias fazem jornais

saberes antigos de outras tipografias

foram elas que

inventaram as rádios locais

 

passam a ferro

limpam o chão

sentam-se de novo

 

quando querem

da rua

                        ninguém as vê

O passeio em BTT das Aldeias Avieiras


A ESDRM – Escola Superior de Desporto de Rio Maior -, do Instituto Politécnico de Santarém, fez o primeiro ensaio do que designou provisoriamente por Rota dos Caminhos Marianos, de Santiago e da Cultura Avieira.

A este ensaio chamou “o Passeio em BTT das Aldeias Avieiras”.

O percurso passará a ser um dos que se integram no projeto-âncora de Candidatura da Cultura Avieira a Património Nacional. Pretende reabilitar caminhos tradicionais ou antigos que mereçam ser preservados por constituírem uma interpretação do meio envolvente, em todas as suas vertentes – humanas, religiosas, sociais, naturais e outras.

Esta Folha Informativa transmite-nos as experiências que os “aventureiros” viveram, por caminhos propícios a experiências muito próximas da natureza da nossa região, e que os levaram em bicicletas de BTT, de Santarém até à aldeia Avieira da Palhota, em Valada/Cartaxo.

À dinamizadora da iniciativa e autora da presente Folha, Prof.ª Teresa Bento, apresentamos os nossos sinceros parabéns pela iniciativa pioneira e inesquecível, que fica como um marco para dar continuidade ao estabelecimento de uma Rota dos Caminhos Marianos, de Santiago e da Cultura Avieira.

 

O Gabinete de Coordenação

(Projecto de candidatura da cultura Avieira a património nacional imaterial e da Unesco)

 


Cultura Avieira – Um património, uma identidade

FOLHA Nº10-2012_O passeio em BTT das aldeias Avieiras[1]

tem de mudar


quantos anos a olhar o chão

ana?

 

da barraca para o mar

o alfredo criança ainda

a teus pés de mãe

 

são de areia os teus caminhos

de areia o chão da barraca

de areia a tua vida

esboroa-se por entre os dedos

o  trabalho

sem outros frutos que não o parco peixe

 

quantos anos a olhar o chão

ana?

quantas como tu de cabeça

baixa?

 

habitas ao pé do sonho de muitos

mas só isso

que teu é o pesadelo dos dias

de seres da casa o homem

e de teres criado o teu filho

a força de braço

só os teus

 

será já tarde para ti

a mudança

mas nunca é tarde para quem te vê

sentir que tem de

 

(torreira; companha do marco; 2010)

quando o mar trabalha na torreira_carlos aldeia


para que me servem
os olhos
senão para te ver

quando aperta o norte
vagas são muralhas
a arte não vai ao mar

fico-me então na areia
de pé a olhar-te
no pulsar das ondas
coração teu

para que me servem
os olhos
senão para ver

de quantas cores
te fazes
sempre o mesmo
nunca igual

para que me servem
os olhos
senão para te falar

contar-te isto de ser aqui
pescador da xávega
histórias tantas
a partilhar

(torreira, século XX)