talvez de palavras se faça
o discurso
mas com actos se concretiza
assim se faz o homem
tragam-me um
diz-me que terra é esta
onde já poucos morrem
porque menos nascem?
terra de partida
terra em que não há pobres
dizem
porque misérias muitas
os moliceiros esguios elegantes fermosos
os mais belos barcos do mundo
não eram barcos
eram casa
ave
pão na mesa
que povo é este que tem
de buscar as suas memórias
em arquivos de museus que não os seus
que povo é este que tão fraca gente
à frente tem
vou ainda ao meu encontro
no desencontro de estar aqui
(torreira e dois moliceiros que já não existem – nem o dono)
O Pardilhoense é um barco moliceiro construído no ano de 1996, em Pardilhó, em casa do anterior proprietário, Sr. Carlos Vilar. Tem um comprimento de 14,70 metros e uma boca de 2,54 metros. Foi adquirido em 22 Dezembro de 2010 pelo Moliceiro da Costa Nova. Reconstruido pelo mestre Zé Rito em 2011, com madeira de pinheiro bravo para o tabuado e madeira de pinheiro manso para as cavernas. Foi lançado na água nos finais de Junho desse mesmo ano. A madeira de pinheiro bravo veio dos pinhais de São Vicente Pereira, e o pinheiro manso do pinhal de Leiria. Foram respeitadas as medidas do barco anterior e algumas cavernas: o restante foi totalmente feito de novo. Está registado no turismo de Portugal para passeios turísticos, tendo licença para transportar 21 pessoas, incluindo os 2 tripulantes. É o moliceiro mais moderno a operar na ria e um dos poucos a navegar à vela nos passeios turísticos. A sua vela maior tem cerca 80m2. Também já participou em inúmeras regatas. Foi recentemente pintado pelo artista Zé Manel. Os painéis são alterados regularmente com temas novos, para poder participar nos concursos de painéis que ocorrem em Aveiro e na Murtosa (Festa do São Paio). Tenta-se ser o mais criativo e original possível.
(texto de jorge bacelar)
mesmo ao lado um moliceiro em terra:
moliceiro do manuel valas
enquanto um é pintado para navegar outro procura novo dono!
é assim na terra que se diz “pátria do moliceiro”.
afinal, património é investimento na memória ou propaganda balofa?
para os edis da murtosa é propaganda: por todo o lado se pode ler a frase emblemática, mas nada se faz para que os moliceiros continuem a navegar na ria. que apoios dá a câmara municipal aos donos dos últimos moliceiros, para os manterem a navegar? é verdade que a câmara tem um moliceiro, mas que faz com ele?
desditosos filhos que tal pátria tendes!
todos os anos moliceiros são vendidos para fora do concelho, por falta de capacidade financeira dos resistentes para suportar os encargos com a sua manutenção. todos os anos os responsáveis pelo município a isto assistem e continuam a usar, sem qualquer vergonha, a frase ” murtosa pátria dos moliceiros”.
e é verdade, a murtosa é de facto a pátria, os donos da casa é que puseram um letreiro à porta a dizer vende-se.