muitas as moscas são
altivamente sacudidas
na certeza de que um dia
acabarão
por desistir
necessário se torna
porém o sacudir
lição simples e breve
de um cavalo
que convém colher
e perseguir
acaso não
seremos mais
ao rés da água
a beleza sorri
líquida
os homens são ainda
a continuação de
o regresso ao terem sido
velas erguidas desafiam
o vento e a sabedoria de quem
vêm de todos os cais do concelho
onde bateiras ainda
a festa renova-se
nos boleares desafiantes
a ria abre-se de plena
subterrâneas vozes
intensas sonoridades
despertam
caminho
não sei se encontrarei a luz
sei que não estou só
isso basta
em verdade
em verdade te digo:
é tudo mentira
e é preciso muita lata
saberás de quem falo
que todos falam dessa gente
em verdade
em verdade te digo:
barrigas cheias
belos carros
grandes arrotos
chorudos ordenados
gandas bacanais
um ar de superioridade
bem cultivado
gravata a condizer
com o perímetro do pescoço
(o que até dá jeito)
pensam-se em roma
e gaspar o ser perfeito
(mais um excelente trabalho de Jorge Bacelar)
se histórias contara
quase de fadas seria
epopeias de homens
nascimento e morte
de tantos barcos
contemplação de si
no contemplar de nós
ter a ria no sangue
é ter saudade de não estar
é vontade irrequieta de voltar
tecidos os rostos
em cores muitas
conforme e disformes
com a realidade
esperança
de quantas formas
o homem te vestirá?
pablo mestre
pinta-te melhor que ninguém
(isto não é um poema)
as palavras
são agora
ferramentas de matemática
apreenderam as quatro operações
aplica-as ao teu vencimento bruto mensal
os multiplicadores
encontra-los na proposta de orçamento
e na folha onde se espelha
a transformação em euros
do teu esforço
com eles faz um simples
exercício de cálculo:
determina o quanto vais receber
mensalmente em 2013
isto não é um poema
agradável
o teu achado
também não
é por isso
esta raiva
este ter de te dizer
o lado escuro da luz
é ávido
enorme!
como se o silêncio
poisado
ave feito
nos braços da ria
e os homens sorrissem
só por se saberem
assim aqui
a liquidez do tempo
geme nos dedos
de onde música
escuta o vento
soprar nas árvores
mais altas
curvam-se os arbustos
tu não
deixar por momentos
o vento pelo cabelo
ser água fresca
onde o sonho
floresce
no embalo
andaremos
se quisermos
que é de guerra
este tempo
soem os tambores
depois das guitarras