ti miguel bitaolra


ti miguel bitaolra

ti miguel bitaolra

 

era tempo de mar
ti miguel
tempo de ser ainda
tempo de todos os nós
tempo

tempo que passou
no corpo
quantas vezes

era tempo de mar
ti miguel
tempo que não
apagou o sorriso
a amizade

será sempre
tempo de mar
ti miguel
que os amigos
não deixam de o ser

só porque
o tempo
fez das suas

torreira; companha do marco; 2010

falo das aves


falarei ainda das aves
quando te disser
que mais belas não vi

estranhos barcos estes
de tão belos
que meninas mulheres são
desta laguna
onde o mar se aconchega
para ser criança

as palavras não cabem
no esplendor das velas
só o silêncio nelas se acolhe
para ser mais nosso
deslumbrante de tanto

falo ainda das aves
 
amanhã
em bando voarão mais uma vez
até quando?

(regata da ria; 2011)

o furadouro não está aqui


o vídeo que se segue e se diz ser sobre o furadouro, infelizmente é constituído maioritariamente por fotos minhas da torreira e uma histórica referenciada como registando o famoso arrais de aveiro, gabriel ançã.
assim não se contribui em nada para a divulgação de uma das praias mãe da xávega, antes se confunde tudo.

atenção, pois, à navegação

 

urge cantar


 

havia

na casa velha

uma janela por onde a lua

 

havia

na casa velha

uma porta por onde o sol

 

havia

na casa velha

alguém que guardava a luz

na cegueira de não deixar ver

 

vieram

da casa velha

com aromas gastos

sabores amargos

bolorentas palavras

 

sinistra gente esta

que aqui chegou com mansos passos

de coelho ditos

 

urge fazer a ouvir

a canção que para outros feita foi

ei-los que partem…”

sorriremos então

os mais pobres dos pobres?


e bota para dentro

e bota para dentro

serão os pescadores da xávega “os mais pobres dos pobres”?

por favor, diz o que pensas disto, que eu penso assim:

de há uns tempos a esta parte, circulam na net e na comunicação local, textos em que os pescadores da xávega são referidos como sendo “os mais pobres dos pobres”.

que um autor, usando da sua liberdade de criador use esta frase poderá ser compreensível, mas não aceitável, que autoridades locais também a usem começa a ser algo discutível e a ser matéria, no mínimo, de debate.

das comunidades piscatórias que conheço, e que são constituídas por uma fatia significativa da comunidade piscatória da xávega, não encontro nelas abundância ou fartura, mas também não é a miséria a característica dominante. na sua maioria os pescadores das companhas são reformados, que procuram na pesca uma contribuição adicional para o rendimento do agregado familiar – ou foram emigrantes, ou pescadores do arrasto ou do bacalhau, ou ainda, no caso da torreira, fazem vida entre ria e mar.

se eles fossem “os mais pobres dos pobres”, como classificaríamos os sem abrigo urbanos, a pobreza urbana onde há reformas de miséria e tudo tem de ser comprado. não conheço maior miséria que esta: a urbana. ser pobre e viver numa cidade é ser “muito pobre”.

se se quer destacar os pescadores da xávega dos restantes portugueses, não penso que esta seja a melhor forma, nem a mais motivadora, para manutenção e defesa de uma arte que é ameaçada de extinção a cada dia. fale-se, isso sim, da sua bravura e das adversidades que dia a dia atravessam quando defrontam o mar.”

a tua opinião conta, a minha, sendo esta, poderá ser revista se me provarem que estou errado.

em comentário dá tua opinião

obrigado