a vida antes da morte
não me preocupa o que acontece depois de morrermos, preocupa-me sim o como morremos.
no momento em que em portugal se vai discutir a legalização da eutanásia, tudo o que com ela se relacione, nos países onde já é legal, é notícia. infelizmente nem tudo, só aquilo que interessa a quem dominando os meios de comunicação se opõe à sua legalização.
não haverá muitos dias, numa estação de rádio, foi transmitida uma entrevista com uma enfermeira portuguesa a trabalhar na bélgica, que tinha participado numa morte assistida.
a moça estava chocada, disse que se recusava a participar em qualquer outro acto semelhante. relatou que a pessoa em causa, uma mulher, estava lúcida, era saudável, mas “sentia-se só e queria morrer”.
nem a filha a demoveu, e no momento do desenlace despediram-se uma da outra com um
“amo-te”
ora tudo isto aconteceu num “lar de idosos” onde a enfermeira trabalhava, disse.
nunca a ouvi questionar o funcionamento do lar. porque é que num lar uma pessoa se pode sentir só?
se é assim na bélgica, como será em portugal?
assustam-me os lares de idosos, como me assusta o sofrimento que só adia a morte.
preocupa-me que uma pessoa saudável, se sinta só num lar e peça para morrer.
preocupa-me esta sociedade egoísta e cínica que não vê que a maioria dos “lares de idosos” são a prática “piedosa” da eutanásia.
preocupa-me
(torreira; regata do s. paio; 2012)