o sorriso
um sorriso
como se um pequeno sol
vindo de dentro da adega
um sorriso
onde se abrigava o tempo
assim como cheguei parti
mas nunca mais
nunca mais o esqueci
o sorriso
(eira pedrinha; condeixa-a-nova)
o sorriso
um sorriso
como se um pequeno sol
vindo de dentro da adega
um sorriso
onde se abrigava o tempo
assim como cheguei parti
mas nunca mais
nunca mais o esqueci
o sorriso
(eira pedrinha; condeixa-a-nova)
hoje sou outro
o cambar
de tão óbvio
desnecessário seria
ter de o escrever
quem ontem fui
por ter sido
deixou de o ser
hoje sou outro
a beleza das velas
(torreira; regata das bateiras à vela; s. paio; 2014)
tecnologia à moda do porto
bai-te
que eu já
te bi-te
(torreira; regata da ria; 2013)
a xávega
o agostinho
o bordão
o saco
o mar
a máquina
eu
o registo
disto
a xávega aqui
um pouco
muito
(torreira; companha do marco; 2013)
hoje sou sonho
quisera-me assim
quase nada
presença ausente
qualquer coisa
entre uma ave
e a música
hoje sou sonho
(torreira; regata das bateiras à vela; s. paio; 2010)
hoje sorrio
toda a geografia
é aqui
todo o tempo
é agora
ser é estar
intransitivamente
sou e estou
hoje sorrio
(estive com a minha neta mais nova, a marta de 2 meses, e isso é toda uma antologia)
hoje sou palavras
escrevo amigos
e a palavra
tem gente dentro
gente que não conheço
me abraça e abraço
com palavras
dizê-los escrevendo-me
sentirem-se ao ler-me
é sonhar ser mais
hoje sou palavras
(torreira; regata do s. paio; 2014)
hoje sou memória
o M. Fátima
pesam em mim gerações
que desconheço
enterrados na memória
comum de um povo
os meus maiores
entre mim e eles o ser eu
a continuação
existo por que existiram
isso lhes devo
quisera soubessem que
os lembro
porque continuam em mim
hoje sou memória
na areia um barco só pode morrer ou descansar
(praia da torreira; 2013)
hoje sou nuvem
sei que desconhecido
é o amanhã
todos os dias podem ser
tudo
e isso é existir
sei que o fim
é o fim
do desconhecido
por isso hoje
é sempre e eu
hoje sou nuvem
(torreira)
hoje quero ser vela
a ilusão é estarem juntos
porque deviam
a realidade é a ilusão
ser só isso
contenta-te com o que vês
e sê feliz
se as velas fossem asas
haveria quem as quisesse
roubar
mas são apenas asas
não servem para voar
hoje quero ser vela
(torreira; regata da ria: 2010)