pedra a pedra
(torreira; 2015)
pedra a pedra o silêncio vai crescendo as mãos ambas o constroem pedra a pedra as vozes estão mais longe as palavras escalam os muros pedra a pedra pedra a pedra
arte de velejar
arte de velejar
dia de s. paio
hoje é dia de s. paio, na torreira, dia do santo padroeiro da terra e dos pescadores. e eles bem precisam de um santo que os proteja da fraca safra, dos baixos preços, das viagens para que muitos partem em busca do pão que a ria nega
“mamã! papá! encontrei uma concha fechada, mas não tem nada, é tudo negro”
uma menina de 6 ou 7 anos, espanhola, dizia assim aos pais o que tinha encontrado na ria. em palavras simples, dizia afinal como estava a ria.
o choco rareou, o berbigão cada vez menos, o linguado pouco, a amêijoa quase nenhuma. os preços de venda ….. não os digo que vergonha tenho.
não há futuro na ria e os jovens partem para o bacalhau, os menos jovens também, se não é para o bacalhau é para a pesca noutros países.
quantos não estiveram nas festas do seu santo? não remaram, não velejaram, não viram sequer os seus amigos.
será que o s. paio lhes vai valer? se não for ele, haverá alguém?
é para os pescadores da torreira esta publicação, onde as velas brancas são o desejo de que consigam sobreviver e fazer vida. são senhores da ria e patrões do mar: brava gente.
(torreira; regata das bateiras à vela; s. paio, 2016)
envelope
há quem se sonhe carta
quisera-me eu envelope
e é tanto
se o conseguir
(torreira; regata das bateiras à vela; s. paio; 2014)
hoje sou outro
o cambar
de tão óbvio
desnecessário seria
ter de o escrever
quem ontem fui
por ter sido
deixou de o ser
hoje sou outro
a beleza das velas
(torreira; regata das bateiras à vela; s. paio; 2014)
assim o vento
marginal aqui, incomodo
sou o que o vento
levará ao mar
depois de tanta terra
o meu tempo é
não foi nem será
é
e serei nele
os que comigo
chego súbito
como quem parte
sem despedida
assim o vento
a bandeira da diferença
(torreira; regata das bateiras à vela; s. paio, 2014)
sem tempo
no meu é que era
tudo tem o seu
foi mesmo a
falta-me sempre
não sei se chega a
já não era sem
veio fora de
tanto sem te ver
estou a matar o
acabou-se o
(torreira; regata da bateiras à vela; s. paio; 2012)