nunca mais

rapa-se o cabeço em busca ameijoa ou berbigão
à beira ria juntam-se
os que regressaram
contam os dias idos
o tempo em que partir
já era urgente
não por ser parca a safra
mas sem futuro
o que a vida prometia
do que havia então
pouco resta
nem moliço nem peixe
sequer a ria
olha-se tudo com tristeza
regressou-se à ausência
vive-se com a memória
sente-se que o fim de tudo
não tarda e repetem
não há futuro aqui
nunca mais

a névoa cobre tudo, até o futuro
(torreira)