olhei e não vi
olhei e não vi o barco
vi o esqueleto
a madeira
olhei e não vi o estaleiro
vi a areia o sol em brasa
o mestre as ferramentas
o suor no rosto
olhei e não vi nada
não posso ver
olhei só
e lembrei-me de ter visto
o mestre há alguns anos
no estaleiro à beira porta
a fazer o mesmo
construir um moliceiro
mas à sombra de uma rede
a dele
quanto mais olho
menos quero ver
asneira sobre asneira
se constroem os dias
se destrói o sonho
se enterra a memória
não escrevo para que gostem
registo para que se interroguem
passo e não vejo mas olho
e não resisto
até estar de férias aqui
começa a ser complicado
ser cego dói ver dói mais
todo o absurdo aqui é real
(torreira; 18 de julho de 2016)
o mestre zé rito constrói mais um moliceiro, agora para o zé rebelo. ao lado ” ….O Museu-Estaleiro da Praia do Monte Branco, propriedade da Câmara Municipal da Murtosa,….”