crónicas da xávega (296)


a primeira flor
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a minha amiga cacilda, mulher do mar da torreira

 
(avô já sou mulher e
eu não quero)
 
abrem-se no rosto trilhos
salgados de tanto mar
perdem-se no longe os olhos
 
(avô já sou mulher e
eu não quero)
 
falarei sempre do sonho
quando no infinito os olhos
inventarem um ser diferente
 
(avô já sou mulher e
eu não quero)
 
amanhã minha neta
que foste do meu sangue
a primeira mulher
não terás o rosto assim
 
(avô já sou mulher e
eu não quero)
 
mas são estes os rostos
que eu quero que lembres
e faças teus porque meus
deste ter sido aqui mais um
 
(avô já sou mulher e
eu não quero)
 
mas
hoje é o teu primeiro dia
e esta a flor que te ofereço
0 ahcravo_DSC_0666 sep

a minha amiga cacilda, mulher do mar da torreira

 
(torreira; 2013)

da memória dos dias (08/03/2012)


contam histórias

ahcravo_olhares_fotog_DSCN7672 mulher eira pedrinha

povoam as aldeias
com o negro da saudade
não choram em público
não se lhes sabe a idade
nem conhecem outra cor

são o tempo que foi
nele moram

guardam-se
são a memória de
terem sido mais
na casa vazia
a solidão

esperam-se
ignoram quanto

contam histórias às crianças
enganando o tempo
(condeixa; eira pedrinha)