mãos de mar
crónicas da xávega (579)
crónicas da xávega (539)
memória_14052011
mãos de pescador

torreira; 2006
há quem olhe para os carros, outros para a marca da roupa, outros para os rostos …. outros devoram com os olhos o que não comem
todos buscam o mesmo: conhecer
eu olho para as mãos e sei que aqui, aqui, encontro tudo.
as mãos do pescadores são rudes, gretadas, feridas, mas extremamente limpas.
são mãos que o mar lava e areia esfrega.
são mãos de trabalho, mãos de homens e mulheres que trazem nelas a história de uma vida, de um amor, de uma guerra, de uma faina,….
de uma gana de ganhar a vida no mar
mãos de mar (62)
sonho

torreira;2011
vazias mãos
apenas
de dedos cheias
esperam
assim este tempo
estes dias
ou o sonho
mudará o real
ou real
se tornará pesadelo
vazias ficaram
as mãos
é tempo de outro
tempo
mãos de mar (16)
para o menino bonito

o meu povo trabalha duro
não tem tempo para brilhantinas
ordenados milionários
viagens em classe executiva
o meu povo
os copos que bebe
saem-lhe do corpo e sabem a sal
o meu povo
tem direito a ser respeitado
por todos
em especial pelos gravatinhas
que não o conhecem
nem falam a sua língua
o meu povo
respeita todos os povos
porque todos os povos
são o meu povo
o meu povo
tem a sabedoria dos dias de parca paga
que reparte com as mulheres
e os filhos
o meu povo
está cansado de meninos bonitos
com muita escola e poucos princípios
o meu povo
convida o menino bonito
para um dia de trabalho


