postais da ria (128)


cheio só de mim

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um a um os “andares” vão entrando na bateira

braço a braço
os dias
por entre os dedos
foram

olhos por dentro
dos olhos
estas memórias

queria a rede cheia
que de sonhos fora
para um dia te legar

mas nem isso

vou-me como vim
nu de tudo
cheio só de mim

ahcravo_DSC_3476_solheira_alar com o salvador chalana

nem sempre a rede salva o salvador, é assim a vida de pescador

(torreira; alar da solheira; 2010)

postais da ria (127)


regressarão

ahcravo_DSC_3502_solheira_alar com o salvador chalana bw

depois do alar da solheira regressa-se, no balde o pescado (2010)

come-se à mesa
o que da ria
horas porfiadas
marés redes

conta-se o tempo
o ganho parco
no fundo do balde

parte-se porque
é fraco o ganho
para tanto
para tão pouco

vão-se os homens
e são senhores do mar
escravos da ria
terra sua de ser água

até quando pergunto
e só o silêncio
onde vozes por vezes
jamais o gesto

regressarão

ahcravo_DSC_3502_solheira_alar com o salvador chalana

a olhar o balde, o salvador faz as contas, e é tão pouco (2010)

(torreira; solheira; 2010)