postais da ria (297)

postais da ria (297)


por hoje chega

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a carregar berbigão

não sei se o rio
se fez mar ou o inverso
 
não sei se é no infinito
que duas rectas paralelas
se encontram
nunca falei com o infinito
 
a fé não salva mas alivia
 
não sei se conheço
o homem ou a sua aproximação
 
o vento já não me despenteia
porque estou careca
 
apaixonei-me pelas tuas palavras
 
por hoje chega
 

(torreira; 2017)

crónicas da xávega (281)


se houver deus

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como se um soldado
desconhecido
perdido nos areais da costa

estreita-se o horizonte
esfumam-se os tempos de fartura

caminha ainda
interrogo-me por quanto tempo

quando já não os houver
erguerão monumentos
escreverão histórias

venderão livros e obras bastas
quando bastava terem feito
tão pouco para que a história
fosse outra

não lhes perdoeis senhor
que quem manda
sempre perdoado é

(espinho; 2012)

crónicas da xávega (256)


a mais ninguém

cinzentos
os dias sucedem-se
monótonos diversos
suceder-se-ão

o tempo
esse assassino impune
a cada dia me leva amigos
levar-me-á

o que o tempo
me não roubou ainda
homens levaram

perdoo ao tempo
é da sua natureza
a mais ninguém

a mais ninguém

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(torreira; a escolha; 2009)

 

crónicas da xávega (251)


o meu amigo ti miguel bitaolra

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não ti miguel
não nos encontramos mais

você acreditava que ia
não sabia para onde
mas acreditava

eu quando for
vou para o mar onde você
já não estará

sei que que nos encontrámos
no melhor sítio do mundo
o nosso mundo

havia sempre o mar
ti miguel
o ti alfredo a companha

havia ti miguel
havia

os dias passam ti miguel
mas a cada dia
é mais de memória
a minha companhia

(torreira; 2009)

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falecido em 2017