cuidado
com as generalizações
e vós poetas
que fazeis quando
não escreveis poesia
dormimos senhor
dormimos o resto do dia
(sal do mar;achegar; armazéns de lavos; 2017)
tantos anos
tantas vidas
tanto amor
casas ruas
cidades
um povo é uma língua
uma terra
um lugar onde morar
cidades
casas ruas
tanto amor
tantas vidas
tantos anos
mata-se um povo
salga-se a terra
arrasam-se casas
ruas cidades
a apagar a memória
a história
chamam agora limpar
assassínio programado
assistido apoiado
não por nós não por nós

(mexer; armazéns de lavos; 2017)
espírito criativo
nunca tive
não sei o que é
por isso escrevi os dias
como foram quando foram
de sol mar e vivos corpos
fui tudo o que escrevi
sou tudo o que escrevo
no tempo que me resta
sou espectador atento
deste mundo cada vez
mais merdoso e escrevo
meto as mãos na merda
agito-a mexo-a bem
depois
atiro com ela à cara
de quem posso
e é pouco
(sal do mar; rer; morraceira; 2016)
plantei uma flor
no mar
o genocídio continua em gaza
o genocídio continua em gaza
na areia a meu lado
os teus olhos
procuraram a flor
sorriram ao vê-la
a guerra continua na ucrânia
a guerra continua na ucrânia
por entre as ondas
deste-me um beijo
a fome e a guerra em áfrica
a fome e a guerra em áfrica
depois acordei
e só me lembro
deste sonho
mediterrâneo é nome de cemitério
mediterrâneo é nome de cemitério
(sal do mar; rer; morraceira; 2016)