de milfontes


                                    onde o branco é mais branco; portalegre; 2007

 

aqui há uma luminosidade mais viva

é como se a luz viesse de dentro das coisas

e poisasse suavemente nos dedos

numa carícia de algar e anémonas

 

aqui as palavras crescem pelo corpo

depois de nascerem junto à terra

 

aqui eu sei de um recanto perto do sol

onde ainda é possível sonhar

e as manhãs

as infinitas e angustiantes manhãs urbanas

têm cheiro a pão alvo e trigo maduro

 

aqui as palavras correm como o mira

que diz a canção vai cheio

e tu

tu aqui

estás ainda da outra banda

falecido ti alfedo neto


ti alfredo neto; anos 90

 

adormeço
no embalo do tinto
aquecido ao rubro do mar

feito desta massa de mar e areia
onde as ondas quebram o sonho
de partir
para voltar
e não precisar de ir

por mais que olhe o horizonte
nada mais vejo que o meu rosto

preso nas redes
agarrado aos remos
a largar a corda

o meu presente
será o meu futuro
o passado neles reflectido

ti alfredo neto; anos 90

a cacilda


                                                             cacilda brandão; 2010

a cacilda

da família dos brandões, filha do ti chico brandão e irmã de homens de mar e da ria, conheço-a há muitos anos.

sempre bem disposta, sempre pronta para os trabalhos mais duros, faz de todo e qualquer trabalho que um homem de terra faça, com uma vantagem: tem sempre um sorriso no rosto.

se o sorriso e a boa disposição fossem peixe, em qualquer companha que a cacilda trabalhasse o saco vinha sempre cheio

(torreira- companha do marco_2010)