
nem tudo o que luz é prata
é peixe do mar
pelas ruas as peixeiras
corriam descalças
canastra à cabeça
quantos quilómetros nos pés
na garganta a cantiga
variava conforme a praia
“é peixe do mar”
“sardinha do nosso mar”
quantas vezes peixe na ida
couves batatas cenouras broa
algumas moedas ou notas
no regresso
o cansaço e o pão
sempre o pão
para a mesa da janta
foi-se a sardinha
do carapau o intermediário
come a carne e deixa a espinha
a cavala devora o carapau
afasta-o da costa
e é de pouca valia quando enche as redes
o jaquinzinho
é perseguido pela europa
e seus sicários nacionais
para ser comido
em manjares recatados
para depois ser vendido como canção
xávega quem te ouve?
(torreira; companha do marco; 2010)