tu no centro


 

 

como se formigas

como se formigas

uma frágil linha
ténue
brevíssima
separa o real do real

(confunde-te o que digo
mas escuta)

se longe ou de perto
o mesmo
é muito diferente
como o vires
assim o darás

a beleza longe
é dor se perto
ambas reais
que tu recrias
em coisa única
sem o saberes

não sejas apenas
os teus olhos
(torreira; cabrita de pé)

nem tudo o que luz é prata


nem tudo o que luz é prata

nem tudo o que luz é prata

é peixe do mar

pelas ruas as peixeiras
corriam descalças
canastra à cabeça
quantos quilómetros nos pés
na garganta a cantiga
variava conforme a praia

“é peixe do mar”
“sardinha do nosso mar”

quantas vezes peixe na ida
couves batatas cenouras broa
algumas moedas ou notas
no regresso
o cansaço e o pão
sempre o pão
para a mesa da janta

foi-se a sardinha
do carapau o intermediário
come a carne e deixa a espinha
a cavala devora o carapau
afasta-o da costa
e é de pouca valia quando enche as redes

o jaquinzinho
é perseguido pela europa
e seus sicários nacionais
para ser comido
em manjares recatados
para depois ser vendido como canção

xávega quem te ouve?

(torreira; companha do marco; 2010)