a ria não dá para camaradas
um saco de 20 kg ao ombro
depois de várias horas curvada
na apanha no cirandar na escolha
a maior fábrica do distrito
emprega homens e mulheres
da murtosa e arredores
mariscadores desempregados
legais e clandestinos
ganham na apanha dos bivalves
o amargo pão que levam à boca
a ria não dá para camaradas
e elas deixam a casa e vão
na bateira ao lado do homem
mais dois braços duas pernas
o corpo depressa se desgasta
no rosto os traços fundos
cavados pelo sal o sol a dor
são as mulheres da ria
(torreira; marina dos pescadores)

