
torreira; recriação da xávega; 2013
torreira; recriação da xávega; 2013
sem tempo
recriação de um lanço de xávega
é tempo do tempo
depois do tempo
tempo lembrado
onde fui
dentro do que foi
tempo reconstruído
o meu tempo
tempo guardado
tempo oferecido
sem tempo
recriação de um lanço de xávega
(torreira; 2013)
mergulho no tempo
tudo o que sou
fui para ser
gostar do que sou hoje
é aceitar o que fui
no tempo que me coube
há bois na praia
gestos e fazeres recriados
memória viva
olhar o ontem
é ver mais além
é ser de novo
mergulho no tempo
refresco-me de mim
(torreira; recriação da xávega;2013
revisitar
revisitar o ontem
com os olhos de hoje
não é reescrever
o passado
mas sim relê-lo
começar a viagem
pelo fim
é privilégio do tempo
lavo os olhos
na espuma do mar
e ardem-me
estranho seria se não
recriação da xávega com bois
(espinho; 2012)
da vida
(“não há ensinamento maior que o exemplo” – bruno vieira amaral)
no fim
muito próximo
do fim
desaprendi
(espinho; recriação da xávega com bois; 2012)
recriação de um lanço de xávega com bois
em 2001, a companha do joão da calada, na torreira, fez a última safra com juntas de bois. foi a última praia onde se viram bois a trabalhar no mar.
depois dessa data houve, que eu tenha registado, sabido e estado presente, duas recriações na vagueira, outras duas em espinho e uma na torreira, em 22 de setembro de 2013.
recordo que em 1852 foi promulgado o “Regulamento para as companhas de pesca da costa da Torreira”, não conheço mais nenhuma praia que a tal tenha tido direito. porque seria? talvez porque a torreira, à época era a praia em que mais companhas trabalhavam. era a capital da xávega.
era……
em 2013, ano de eleições autárquicas, o executivo da câmara municipal da murtosa decidiu, no dia 22 de setembro, levar a cabo uma recriação de um lanço de xávega – o mais bem conseguido de todos aqueles a que assisti.
quem conhece a torreira sabe que depois do s. paio começa o despovoamento e só volta a haver algum movimento ao fim de semana e retoma no verão do ano seguinte. pois no dia 22 de setembro de 2013 parecia, não só pelo tempo que fazia, que era verão outra vez: o areal estava cheio de gente que tinha vindo para assistir à recriação.
de então para cá, nem mais uma. a autarquia publicou um livro sobre o acontecimento e pronto.
nas festas do s. paio não há tradição de recriação de um lanço de xávega, os eventos tradicionais são na ria – regatas de moliceiros e bateiras à vela e corrida de chinchorros – fica para o mar a modernidade – cerveja, shots, djs ….. entre ria e mar, as noites no largo da varina.
nada tenho contra a modernidade no mar nem é, aqui e agora, o momento de as analisar, mas a verdade é que há que rentabilizar os investimentos.
mas ….
será que, uma vez que a autarquia não tem apoiado uma recriação anual, os privados – restaurantes, bares de praia e comércio em geral – , não poderiam financiar a recriação? ao fim e ao cabo lucrariam com a sua realização, provavelmente mais do que investiriam nela – porque é de investimento que falo e não de outra coisa.
não basta defender que a iniciativa privada é o motor da economia, é preciso prová-lo na prática. se o estado, neste caso a autarquia, não avança com o capital, porque é que os que privados não tomam a inciativa a seu cargo?
a iniciativa, a iniciativa, a iniciativa …. a iniciativa?
um ano tentavam, digo eu, se não desse tinham mostrado do que eram capazes e talvez a autarquia vendo o que tinham feito sem ela, viesse em vosso apoio.
ficam dois ditados populares: “quem não arrisca não petisca” e “quem tem barriga para caldos não vai a casamentos”.
será que a torreira já foi ou quer continuar a ser?
(torreira; 22 de setembro de 2013
notas de um retirante
o jorge carriço a relembrar velhos tempos
o último ano em que, na torreira, se fez alagem com bois, foi em 2001. (confirme-se com o joão da calada)
a companha era a do joão da calada e o barco, o óscar miguel.
entre os bois e os tractores, penso que houve um período curto em que se fez alagem a tirante. tire-se isto a limpo.
em 2013, ano de eleições autárquicas, pela primeira vez a câmara da murtosa fez uma recriação da xávega.
para o ano há de novo eleições, porque não, pelo menos de 4 em 4 anos, fazer uma recriação?
(torreira; setembro, 2013)