deus
crónicas da xávega (281)
se houver deus

como se um soldado
desconhecido
perdido nos areais da costa
estreita-se o horizonte
esfumam-se os tempos de fartura
caminha ainda
interrogo-me por quanto tempo
quando já não os houver
erguerão monumentos
escreverão histórias
venderão livros e obras bastas
quando bastava terem feito
tão pouco para que a história
fosse outra
não lhes perdoeis senhor
que quem manda
sempre perdoado é
(espinho; 2012)
crónicas da xávega (245)
porque não sou deus
(deus escreve direito
por linhas tortas
diz o povo)
porque não sou
deus
tento sempre
escrever a direito
e sai-me quase
tudo torto

(torreira; 2012)
mãos de mar (47)
não creio
não creio em deus
e isso traz-me uma
felicidade diversa
como não existe
não me trará
qualquer problema
menos um
com que me
preocupar

(torreira; 2012)