reler joaquim namorado em 2018


(da memória)

bom dia dr. joaquim

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joaquim namorado retratado por jaime do couto ferreira

cheguei a coimbra em setembro de 1973 e, não me lembro já porquê, fiz do tropical o meu café. ali se juntava a tertúlia de que joaquim namorado e orlando de carvalho – este por vezes de forma ensurdecedora – eram as figuras centrais.

jovem estudante, amante da leitura, ali passava as manhãs ou tardes livres a ler e, à tarde, a ouvi-los.

é no entanto depois do 25 de abril que começam as minhas conversas, fora da tertúlia, com joaquim namorado. conversas matinais entre um esquerdelho e um comunista ortodoxo.

até ao final da vida do poeta mantive com ele conversas animadas em que muito aprendi, lembro-me de lhe mostrar uns originais para colher a sua opinião, de caneta na mão lá foi riscando, cortando ….. (perdi essas folhas, como tenho perdido muita coisa na vida)

fomos amigos e isso é o mais importante. com a morte de joaquim namorado, para mim, morreu a praça da república e já pouco fui ao tropical.

setembro de 2018

no âmbito da exposição de jaime do couto ferreira e na sequência da edição do seu livro “O Herói no “Neo-realismo mágico” a editora lápis de memórias promoveu na casa da escrita, em coimbra, duas sessões sobre o poeta joaquim namorado.

neste registo reproduz-se a totalidade da sessão de 22 de setembro de 2018, em que antónio pedro pita fez uma “releitura” da obra do poeta e uma “visita guiada” à sua vida.

rui damasceno e josé antónio franco disseram poesia

 

 

relembrar joaquim namorado em 2018


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joaquim namorado visto por jaime do couto ferreira

no âmbito da exposição de jaime do couto ferreira e na sequência da edição do seu livro “O Herói no “Neo-realismo mágico” a editor lápis de memórias promoveu na casa da escrita, em coimbra, duas sessões sobre o poeta joaquim namorado.

neste registo, com a introdução de breves momentos da tertúlia do atrium sólum, a totalidade da sessão de 21 de setembro de 2018

 

“Abril antes de Abril”: o vídeo do lançamento


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a crise de 69, em coimbra, vista por rui namorado e comentada por adelino castro, alberto martins, pio de abreu e strecht monteiro.

o livro, para além do abundante acervo documental, enquadra a crise no contexto politico nacional e internacional, movimentos precedentes e posteriores.

o vídeo regista a sessão de apresentação, no dia 16 de abril, de 2016, no auditório da faculdade de economia da universidade de coimbra. inseriram-se as fotos do acervo de rui namorado, constantes do livro e na sequência em que nele surgem.

o poeta joão damasceno na lápis de memórias


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retrato do poeta enquanto jovem artista

no dia 21 de março, dia mundial da poesia, a livraria “lápis de memórias”, em coimbra, joão damasceno foi o poeta.

a sua poesia dita pelo irmão rui, acompanhado pelo sobrinho pedro e joão queirós (à viola), lembraram aos amigos o homem e o poeta e, a quem o não conhecia, a força da sua criatividade poética.

desses momentos aqui fica o registo possível e o abraço de um amigo

 

João Damasceno

Coimbra, 1955-2010.

Licenciado em História pela Universidade de Coimbra, iniciou a sua vida profissional como professor do ensino secundário em Angola. Voltou para Portugal onde deu aulas em várias localidades em todo o país, inclusivé nos Açores. A sua obra foi composta e impressa na tipografia da família, salvo o Retrato do Artista Quando Jovem aos Pés da Rainha Santa Isabel.

Obra publicada:

1983, Corpo Cru, Fenda;
1985, Alma-Fria, Sketches Policiários, Fenda;
1986, Cinco Suicídios, Fenda;
1989, Retrato do Artista Quando Jovem aos Pés da Rainha Santa Isabel, Fenda;
no prelo, Carta de Probabilidades de Erosão Celeste, Tipografia Damasceno.

Poema de JOÃO DAMASCENO

NOVA CARTA AOS PSIQUIATRAS

Disseram que ia ser confortável, que ia ficar tranquilo

Deram-me os vossos comprimidos:
Quero masturbar-me e não posso

Onde está a minha solidão? Quero a minha solidão
Onde está a minha angústia? Quero a minha angústia
Onde está a minha dor? Quero a minha dor

Deram-me os vossos comprimidos:

Engordei e fiquei lustroso como um gato a quem tivessem cortado os tomates”

in ” Corpo Cru”

 

os livros do desassossego de fernando pessoa


na lápis de memórias, no atrium solum , em coimbra, no dia 17 de março de 2016, teresa rita lopes trouxe consigo a sua última obra ” livros do desassossego de fernando pessoa” e o seu imenso conhecimento de pessoa.

ensinou-me que pior que não conhecer, é conhecer errado. ouvi-la é entrar num mundo onde pessoa é a pessoa que de facto foi, numa obra que é muito mais e diversa, daquela que nos foi dado conhecer por outros.

é para este mundo que vos convido no registo que fiz na “lápis de memórias”, em coimbra

 

antologia “poemas da saúde e da doença”


abertura poemas sd

no dia 21 de fevereiro foi lançada a antologia “poemas da saúde e da doença” da autoria de josé fanha e pedro quintas, editada pela “lápis de memórias”, no auditório da editora sita no atrium sólum em coimbra.

a apresentação da obra, feita por laborinho lúcio, foi ela própria antológica, sendo de ouvir e reouvir atentamente.

para aguçar o apetite reproduzo o prefácio da autoria de um amigo da lisboa de há quase 45 anos, luís gamito:

“No dia em que escrevo este texto chegou a notícia do falecimento do neurologista Oliver Sacks por alguns descrito como “o poeta da medicina moderna”. Poesia, doença e a inevitável morte são as palavras-chave desta antologia habilmente organizada, no sentido artístico, de tal forma que o resultado obtido é em si mesmo poético.

Sendo a poesia uma vivência do ser livre ela é, em si mesma, algo saudável ainda que tenha como temática a doença. A poesia é sinal de vida sobretudo quando nos fala da morte ou da doença. Para quem a escreve e também para quem a lê ou escuta.

A descrição literal e conceptual do fenómeno poético é difícil, até mesmo impossível. Mas sentimos que é uma coisa que nos faz bem: o desfile de múltiplas e novas associações de ideias, de memórias que inevitavelmente habitam emoções e são habitadas por sentimentos.

Há expressões de vida que são poéticas e, como tal, construtivistas na incessante luta contra a morte. E, ipso facto, contra a doença. E o ser doente ou dolente? Existe na medicina atual uma definição caricatural: saudável é toda a pessoa que ainda não foi bem avaliada por um médico.

Então, se todos somos doentes, é natural que a universalidade do fenómeno suscite a atenção da poesia e dos poetas. A música magnifica o tom sentimental na sua linguagem poética mas a palavra escrita objetiva os conceitos, sugere, induz, deduz, magnifica a personalização.

Todas estas funções superiores do cérebro, quando dedicadas à elaboração intelectual àcerca da doença, perfilam-se em dois territórios não distintos entre si. Por um lado, a poesia escrita trabalha no âmbito inter-pessoal e social. Por outro, é um trabalho de gratificação pessoal do próprio autor podendo ser psicoterapêutica em si mesma nesse plano individual.

Assim, a poesia extrovertida quando lida ou ouvida pode fazer bem às pessoas quer trate o tema da doença ou o da saúde que afinal é sempre o mesmo: o de uma moral anti-ansiedade.

A ansiedade é própria do ser humano porque este é livre de poder ser autor do seu próprio sofrimento. Ou porque este sabe da existência da própria morte. A consciência da doença fá-lo aproximar-se dessa finitude que apenas algum tipo de religiosidade contraria.

A teoria do “poeta fingidor” que nos remete para a existência de “dor” na pessoa do poeta tem sido acompanhada pelos raciocínios de que para “criar” é necessário que o autor seja portador de uma qualquer perturbação psicológica. Ora, isto não está demonstrado.

Contudo, por uma razão de luta contra o estigma, é comum na Psiquiatria serem apontados sujeitos que são afetados por perturbação bipolar e que se destacaram como criadores geniais. Um exemplo citado é o de Tolstoi que só escrevia quando em fases depressivas na sua quinta de Yasnaia Polyanna. Na fase maníaca esbanjava dinheiro em Moscovo.

A elaboração cuidada de psicografias dos autores constantes desta antologia provavelmente encontraria, em alguns, sinais ou sintomas de alguma psicopatologia, mas o que interessa sobremaneira é a obra poética produzida, aquilo que encanta o leitor e o ajuda na saúde ou na doença. E é disso que todos necessitamos: fruirmos o prazer da novidade que a vida expressa, a surpresa que o insólito nos proporciona.

Há muitos anos já, o José Fanha contou-me que uns alunos seus foram em visita de estudo a uma fábrica. A camioneta na qual se deslocavam, por alguma razão, parou a meio do caminho e enquanto isso as crianças brincaram com uns caracóis que, lentos, permaneciam na berma da estrada. No dia seguinte, a professora de Português pediu aos alunos que fizessem uma redação sobre a visita à tal fábrica. Não esperava que a maioria deles olvidasse a usina e escrevesse apenas sobre os caracóis. Mas para as crianças a poesia não esteve na fábrica.

E por isso é isto o valor dos caracóis no qual Sacks também acreditou.

Luiz Gamito

Presidente do Colégio de Psiquiatria da Ordem dos Médicos”

e o vídeo, possível, da sessão de lançamento