
nunca lhe soube o nome era o nosso vizinho sempre em torno das suas duas paixões e preocupações o carro e a esposa era vê-lo nas tarde soalheiras de inverno capô aberto a dar de respirar ao motor a sacudir os tapetes a pôr o motor a trabalhar e a andar dez escassos metros com o carro era vê-los sentados ao sol manso de inverno abrigados do vento frio pelas paredes de vidro e chapa do carro ele a ler o jornal ela a fazer renda nunca lhe soube o nome conheci-lhe porém um pouco da vida mais importante que o nome nas conversas parcas das horas mortas do intervalo de almoço gostava de os ver a descer a calçada a caminho da bica depois de almoço ou do jantar se o tempo ajudava nunca lhe soube o nome mas nunca lhe esquecerei o rosto a educação que já não se usa o dobrar ligeiro sem ser servil da coluna enquanto levava a mão à cabeça para solevar o boné o cumprimento sempre pronto coisas de aldeia perdida na cidade nunca lhe soube o nome e agora mesmo que o viesse a saber já não poderia chamar por ele será sempre o nosso vizinho
nota – a foto não é do “nosso vizinho” é de todos os vizinhos