pela mão amiga do joão correia
Carta para Josefa
ao ti borras (pescador que a torreira e os pescadores não esquecem)
virado para o mar
olhando o longe
recordo o ti borras
pescador de outros tempos
do barcos de quatro remos
de tantas juntas
que não conhecia mar que o impedisse
de trabalhar
“se o mar fosse de vinho
ia a pé até à américa”
dizia
recordo o ti borras
pescador e senhor dos mares
recordo e não vejo lembrança dele
ficou um beco com o seu nome
que se apagará no tempo
que começa a apagar-se
o tempo não pode ser deixado a si próprio
ainda não atingiu a maior idade
ensinou-me a amar a ria
de miúdo levava-me pelos canais
da palavra ensinou-me o valor
da verdade ensinou-me a dizê-la
dos homens o respeito e o amor
ao próximo
em 1978 partiu
a mim só me deixará
quando eu partir também
quando com ele:
“bom dia sr. césar e companhia”
assim cresci na murtosa
avé césar gorim
boa noite estrela
soube
pelo teu filho
“você deve conhecer o meu pai,
o estrela”
(a frase continua a martelar-me
a cabeça)
que tinhas partido
ninguém sabe para onde
mas todos sabem que não voltas
sabes estrela
a vida é feita de encontros
e desencontros
nós há muito que não nos encontrávamos
vinha e não te via
e pensava:
“está para o mar”
era normal
e vai continuar a ser normal
porque, para mim, estrela,
tu estás no mar
e é por isso que não nos encontramos
um abraço do teu amigo
cravo
(muito resumidamente)
quando em 1751, segundo a prof. inês amorim, a xávega chega a portugal, mais precisamente à costa do furadouro e torreira, já os pescadores da ria iam ao mar, à sardinha, com grandes chinchorros.
o fechamento da barra da ria, só reaberta em 1808, fez com que os pescadores da ria levassem as suas artes para o mar e nele lavrassem a sardinha que abundava.
com o aparecimento das traineiras e, mais tarde, com a utilização do cerco americano na pesca da sardinha, é feita uma “limpeza” na costa e as companhas passam por momentos de crise e reconfiguração. muitas desaparecem.
era então comum, e foi-o durante muito tempo, uma retribuição em espécie (peixe) aos pescadores – a caldeirada, quinhão, teca (no sul).
hoje em dia, nas companhas que restam, já não é a sardinha a fonte de riqueza, mas sim o carapau. a retribuição em espécie, como regra, desapareceu e o normal é os pescadores levarem para casa, para o almoço ou a janta, peixe de pouco valor comercial.
neste caso, o dono da companha, josé monteiro, resolveu distribuir uma caixa de carapau por todos os membros da companha.
assim, fizeram-se 18 montes, que se foram acertando até ficarem praticamente todos iguais.
(praia de mira, companha do zé monteiro)
hoje fui ver os meus
cravos que já foram
sob cravos vivazes
vermelhos de sangue
um cravo olhou-os
todos
e foi mais