pela mão amiga do joão correia
Carta para Josefa
(torreira; anos 90; a espera para ver e comprar)
virado para o mar olhando o longe recordo o ti borras pescador de outros tempos do barcos de quatro remos de tantas juntas que não conhecia mar que o impedisse de trabalhar se o mar fosse de vinho ia a pé até à américa dizia recordo o ti borras pescador e senhor dos mares recordo e não vejo lembrança dele ficou um beco com o seu nome que se apagará no tempo que começa a apagar-se o tempo não pode ser deixado a si próprio ainda não atingiu a maior idade
(o guiador da bicicleta; murtosa; s/d)
guiador guia-me ensinou-me a amar a ria de miúdo levava-me pelos canais da palavra ensinou-me o valor da verdade ensinou-me a dizê-la dos homens o respeito e o amor ao próximo em 1978 partiu a mim só me deixará quando eu partir também quando com ele bom dia senhor césar e companhia assim cresci na murtosa salvé césar gorim
(alberto estrela; torreira; 2006)
boa noite estrela soube pelo teu filho você deve conhecer o meu pai o estrela a frase continua a martelar-me a cabeça que tinhas partido ninguém sabe para onde mas todos sabem que não voltas sabes estrela a vida é feita de encontros e desencontros nós há muito que não nos encontrávamos vinha e não te via e pensava está para o mar era normal e vai continuar a ser normal porque para mim estrela tu estás no mar e é por isso que não nos encontramos um abraço do teu amigo cravo
(muito resumidamente)
quando em 1751, segundo a prof. inês amorim, a xávega chega a portugal, mais precisamente à costa do furadouro e torreira, já os pescadores da ria iam ao mar, à sardinha, com grandes chinchorros.
o fechamento da barra da ria, só reaberta em 1808, fez com que os pescadores da ria levassem as suas artes para o mar e nele lavrassem a sardinha que abundava.
com o aparecimento das traineiras e, mais tarde, com a utilização do cerco americano na pesca da sardinha, é feita uma “limpeza” na costa e as companhas passam por momentos de crise e reconfiguração. muitas desaparecem.
era então comum, e foi-o durante muito tempo, uma retribuição em espécie (peixe) aos pescadores – a caldeirada, quinhão, rapola, teca (no sul).
hoje em dia, nas companhas que restam, já não é a sardinha a fonte de riqueza, mas sim o carapau. a retribuição em espécie, como regra, desapareceu e o normal é os pescadores levarem para casa, para o almoço ou a janta, peixe de pouco valor comercial.
neste caso, o dono da companha, josé monteiro, resolveu distribuir uma caixa de carapau por todos os membros da companha.
assim, fizeram-se 18 montes, que se foram acertando até ficarem praticamente todos iguais.
(praia de mira, companha do zé monteiro; 2009)
hoje fui ver os meus
cravos que já foram
sob cravos vivazes
vermelhos de sangue
um cravo olhou-os
todos
e foi mais