Mês: Setembro 2010
poema do barco
é de água a minha terra terra o meu fim carcaça descansarei um dia na imensidão da areia com o tempo desfeito serei levado pelas marés ou queimado na fogueira entre água terra e fogo me cumpro ser barco é ter sido para voltar a ser
é de água a minha terra
terra o meu fim
“na hora de pôr a mesa” de josé luís peixoto
“Capitalismo e Decadência” de Francisco Oneto Nunes
francisco oneto nunes é antropólogo e professor do iscte, começou a sua actividade de investigador em vieira de leiria, tendo publicado vários artigos e livros sobre a xávega, de que se destaca ” A arte xávega na Praia da Vieira”, com fotografia de Dora Landau. Inicia-se aí a sua paixão pela xávega, que desaguou na sua tese de doutoramento.
Com a tese de doutoramento a aguardar publicação, coordenou ainda o livro “Culturas marítimas em Portugal”, editado pela Âncora em 2008.
É da sua autoria o texto que a seguir se publica
“caranguejola” de mário de sá-carneiro
artes da ria
uma das artes de pesca utilizadas na ria é a chamada “chincha de pareja”. até meados do século XVIII, no sul de espanha, mais precisamente na catalunha esta arte foi utilizada com o aparelho da xávega.
a rede é arrastada por duas bateiras, varre o fundo da ria e destina-se à pesca da enguia, do choco miúdo, do linguado, do que vier.
uma das bateiras leva a rede que lança à ria ficando com a corda de “reçoeiro”, a outra leva a corda “mão de barca”, as duas lado a lado arrastam a rede que é do tipo de chinchorro.
normalmente a pesca pode durar toda uma noite, cerca de 12 horas, ou mais, até se apanhar caldeirada que justifique a pescaria. a companha é formada por 6 a oito homens, esta inclui uma mulher.
a rede, finalizado o cerco, é alada para a bateira que a carrega e todos os pescadores colaboram no alar manual e no safar do peixe e das algas. é um trabalho muito duro e repetido durante muitas vezes ao longo da faina.
penso que neste momento existem 3 “chinchas de pareja” na torreira e não sei se mais alguma na ria.
esta é a chincha do manel trabalhito, dono da bateira “lutar para vencer”.
a bateira da foto é a que arrasta a corda e à popa vai o filho do manel trabalhito, também manel, que nesse dia ia apanhar uma caldeirada de enguias para se despedir: ia para a pesca do bacalhau ganhar a vida.
é assim a vida dos pescadores da torreira: ganhar a vida no mar e subsistir na ria.
(manuel trabalhito – filho – e carlos tetinha; torreira; 2009)
das janelas e das portas
o sonho e a realidade em manuel bandeira
ver o mar
era o tempo das papoilas e dos prados verdejantes