do bordão e das suas funções no largar


 

ti antónio neto (falecido)

continuemos a falar do bordão

na praia da torreira, na hora da partida, o barco é seguro por 3 cordas e a muleta (de madeira)
as cordas são:

– o reçoeiro, extremidade da corda (cala) que, ligada à rede fica em terra, e enrolada na bica da ré é manejada pelo arrais  no segurar do barco

– a regeira da ré, também enrolada à bica da ré e mantida firme por um grupo de homens e mulheres

– a regeira da proa, presa por vezes a um dos golfiões da proa, e que é presa, em terra, a um bordão que é enterrado na areia.

desta forma se mantém o barco perpendicular à praia, fazendo frente às ondas sem risco de virar.

o ti antónio, que já lá vai noutros mares, era sempre, na companha do marco, o homem que levava o bordão da regeira da proa, o enterrava na areia e fazia.

de poucas palavras, como o bordão que tão bem conhecia.

até sempre ti antónio, neto de apelido, de que conheci o pai e cujos sobrinhos netos, que filhos não os teve, continuam na faina da xávega

(torreira; 2009)

nem o golpe de asa


outono pessimista, não me lembro quando

“ o golpe de asa “

não me faltou

sequer o tentei

e foi na sombra de mim

que desde sempre habitei

 

serei sempre

o que se perdeu

julgando encontrar-se

o sonho encalhado na berma

o quase…

 

tudo aconteceu ao contrário

de mim

e por aqui fiquei

amparado nos muros toscos

de sobreviver assim

até que…

 

depois

esquecer-se-ão do que fui

e talvez inventem

no eu não ter sido

o que talvez não tenha vivido