onde a água é luz


água luminosa esta

vai pela beira da ria
caminha sem pressas de cidade
o tempo parou por momentos
para seres e estares

escuta as cores
sente como a música se desprende delas
e se faz em ti
a sinfonia que nunca sonhaste poder ser

não interrogues a ria
deixa que ela te fale e te encontre
ali onde os olhos mergulham
na superfície das coisas
para lhes encontrar a raiz

és
o encontro de ti
contigo
aqui onde as cores
são música
e a água é luz

(marina dos pescadores; torreira)

as flores da virgem


a virgem na bica da proa_renovação do ramo

a fé dos pescadores revela-se nos mais pequenos detalhes, mas há um, nas companhas de xávega, que é emblemático: a imagem do santo padroeiro (mais vulgar a nossa senhora de fátima) na bica da proa rodeado por um ramo de flores.

serão de plástico as flores, que impensável seria naturais, mas mesmo assim vão-se degradando com a fúria dos elementos, por isso, de tempos a tempos, é preciso renovar o ramo e, quiçá a imagem – embora isto seja muito raro, só em caso de acidente e destruição da imagem.

é  o momento em que os homens do mar acarinham a sua protecção como se de uma mãe.

(torreira; companha do murta 2006)