amanhece na ria


amanhecer na marina da torreira

 
nem todas as manhãs
são a manhã
nem todos os dias
são o dia
 
porém
tu és neles o que deles
fizeres
 
serão ainda
quando tu já não
aí reside
a memória de teres sido
se acaso
o fores intensamente
 
quando
o dia for dia
mesmo sem o ser
e a manhã for a manhã
em que tudo se inicia
 
porque tu
só tu
podes ser-te

xávega_do largar (II)


" e o barco vai de partida"

longe vão os os tempos em que o francês françois dennis escrevia: ” estranha terra esta onde os bois vão lavrar o mar” (citado por raul brandão, in “os pescadores”).

onde hoje os bois na agricultura? então, porquê no mar?

os tempos trazem consigo a mudança e é neles que vivemos. hoje o trabalho pesado que antes era feito por juntas de bois, é coisa de tractores, frequentemente comprados em segunda mão no ribatejo ou além tejo.

e sim, os tractores vão lavrar o mar, ei-los.

o que poucos sabem é que para trabalharem na areia e no mar, os pneus não são cheios com ar, mas sim com água.

o tractor empurra o barco até onde puder, garantindo o máximo de firmeza, segurança, ao largar, por ventura até o barco ganhar calado e o motor poder ser accionado.

(torreira; companha do murta; 2006)