só isso


quando as árvores vêm do mar

 

gorduroso o tempo

pega-se-me às mãos

 

não

não te invento nome

nem corpo, nem ser

deixo-te estar assim

no limbo da imaginação

sossegadamente desassossegando-me

 

as palavras

não serão nada

onde tu fores

por isso

para quê gastá-las na invenção

de um tu?

 

estamos apenas

e nisso somos tanto

que se fôssemos de facto

o que seríamos?

 

esfrego as mãos na areia

onde nascem conchas e seixos

e aí

busco o sol

enquanto te espero

 

os dias

fazem-se de dias

só isso

quem trabalha ganha pouco


saco da rede de xávega

 

quando o mar é fêmea
enche-se o saco
de carapau

enchem-se os homens
de esperança
quantas vezes a morrer
breve na lota
onde os compradores
entre cafés e cigarros
aguardam o fruto do suor
para o beberem em copos de bom vinho

também no mar
há quem trabalhe e ganhe pouco
sendo de poucos
a riqueza que o mar dá

um saco em leque
com que se abanam os revendedores
isso é

(praia de mira; companha do fatoco)

barco de mar_ganhar o mar


barco de mar olá sam paio (2007)

 

foi tempo em que os bois.  agora são os tractores que trazem e levam o barco pela areia fora.

quando o barco está muito longe do local ideal para sair e os tractores não são suficientemente fortes, são necessários dois para o arrastarem pela areia, como mostra este registo.

no tempo dos bois o barco era sempre arrastado sobre roletes – cilindros de madeira – o que tornava mais fácil o deslizar e menos pesado  trabalho das juntas. hoje em dia, os roletes continuam a existir mas são frequentemente utilizados somente para poisar o barco, quando o são.

o arrastar directo do fundo do barco sobre a areia, provoca um desgaste mais rápido deste e a necessidade de o substituir com mais frequência.

nem tudo são vantagens, cada processo tem sempre duas faces.

 

(torreira, 2007)