chegam pela manhã as palavras
trazem no regaço o dia
pleno de nada
(ria de aveiro; torreira)
junho vai longe e os donos dos barcos ainda não receberam os prémios ….. não os matam, mas sufocam-nos
será sempre verão
quando maduras as palavras
te falarem de mim
voarei ainda nos braços líquidos
que por entre terra e mar
caminhos meus
dizer de mim o ter sido é
falar de gentes e costumes passados
é dizer-te as raízes de ti
roma não paga a traidores
como queres que eu?
(assinado: moliceiro)
foram os donos dos moliceiros que pagaram os tempos de antena. ” … cantando e rindo/levados, levados sim”
(ria de aveiro; regata da ria, 2014)
do meu amigo Manuel Antão, membro da equipa que ganhou a regata da ria 2014, em 29 de junho, aqui fica um desabafo
” VAMOS nós navegando nas águas calmas da RIA mas por vezes onde essa calma nos traz agonia não é berço nem quadra antes fosse é só para dizer que esta mesmo regata AVEIRO WEEKEND JUNHO 28 / 2014 .TANTA propaganda na RTP canal 1 de televisão no programa do nosso AMIGO FERNANDO MENDES no preço certo aproximadamente uma hora onde falou na RIA DE AVEIRO DOS MOLICEIROS DO HOTEL MOLICEIRO ELE PRÓPRIO ANDAR NOS MOLICEIROS NOS OVOS MOLES DE AVEIRO E QUE AVEIRO ERA A VENEZA DE PORTUGAL enfim uma boa em tudo para a CIDADE DE AVEIRO E TURISMO DE PORTUGAL o pior é que isto foi como já disse em JUNHO e o resto que é o tal DINHEIRO ainda não veio alguns em pintar os barcos gastaram 600 euros ou mais outros partiram o mastro e esta gente que organizou ainda nem uma só palavra nos deram SERÁ QUE ELES JÁ PAGARAM AO NOSSO AMIGO FERNANDO MENDES POR ENGANO ?..”
postais da ria (35)
“A pátria onde Camões morreu de fome e onde todos enchem a barriga de Camões! (José de Almada Negreiros) “
pergunto-vos onde estou
e sei que sabeis que não sabeis
ou se o sabeis não o lamentais
não sei sequer se ainda sou
porque se o for já nada é como vedes
neste fragmento de tempo parado
diante dos olhos de quem para mim
ao ver-me se lembra de o ter sido
se em vida me não destes a mão
ao menos agora quando as forças me faltam
deixai que me recordem como fui
não há muito tempo um cartaz pedia
“não matem os moliceiros”
hoje agora aqui
apenas vos pedimos
“não matem a nossa memória”
(assinado: um moliceiro)
(murtosa; bico; 2009)
quem não conhece o moliceiro – o barco – é com esta imagem que fica a identificá-lo. uma bela imagem, bem concebida, com cores vivas, apelativa.
mas ….
e o mas é que me perturba e poderá perturbar alguns: o moliceiro é um barco com vela. faz-se excepção aos “amputados” que estacionam no canal de aveiro e fazem “passeios” turísticos em pista fechada. não são só moliceiros, são mercantéis (saleiros, em aveiro) e barcos que misturam tudo e nada são.
se a “pátria do Moliceiro” assume este símbolo como imagem de marca, é o assumir de que o futuro do moliceiro é deixar de o ser. que nome dar a uma pátria que “mutila” o filho e ainda por cima o exibe mutilado?
não penso que a empresa autora da nova imagem do município tenha qualquer intenção de transmitir a mensagem da morte dos moliceiros. mas quem a avaliza e aprova deve ter consciência do que está a aprovar e a fazer.
se já é difícil manter viva a tradição com os parcos apoios das entidades responsáveis, aos donos dos moliceiros que ainda concorrem nas regatas à vela, o que dirão quando virem este símbolo?
assim vamos por cá
inventar as cores e as coisas
despovoar a paisagem
como se tudo já tivesse sido
para voltar a ser de modo diverso
recriar recreando
a luz e a sombra
o doirado que semeio
a prata lançada sobre as águas
o rebrilhar da criação
o fazer
dentro do tempo um homem sorri
é uma criança traquinas
que nunca cresceu
sou eu
(ria de aveiro; torreira)
fizeram a escola sentados
nos bancos de areia rente ao mar
aprenderam cedo a força das ondas
o gume afiado do norte pela madrugada
o salgado sabor dos dias amargos de pouco pão
a escrita que conhecem é sobre água
nem por isso efémera
que de geração em geração
de homem para homem
como se ontem fosse hoje e sempre
o mar é pauta onde ritmos e pausas
são marcados pelas notas das ondas
onde o maestro é o arrais
falo do mar
da música fora dos búzios
dos artistas
das companhas da xávega
bota que chega de palavras
(torreira; companha do marco; 2011)
nada dizer
nem todos os dias são
muitos haverá em que
tu sabes
não pode ser
sempre nem nunca
sê no dia em que não
o mesmo que noutro dia qualquer
a razão encontra-la-ás se
razão houver mas
não será por isso
pelo que és
pelo que sonhas
pelo que queres que seja
vai
porque nada é o que
(ria de aveiro; regata da ria, 2014)