postais da ria (184)


o cigano

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onde antes areia moliço
peixe luz alimento
nada mais que um charco
rodeado de lama

lama na ria e um cemitério
de bateiras
à espera da despedida
dos donos

a lama invade tudo

chapinha-se na lama
e dá-se-lhe bandeira doirada
na ilusão de pescar incautos

reconheço o fim do tempo
na maré vazia
a que nem os homens resistem

partem os que podem
ficam os que já não
ou porque também

o cigano desmonta a tenda
lava os pés e as mãos
na pouca água que resta
purifica-se

o cigano não muda a terra
muda de terra
é esse o seu destino

sonhar sonhar sonhar
nada é em vão

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(torreira; porto de abrigo; 2016)