arte solheira – o safar das redes uma outra forma de dança (I)


 

safar redes – carlos padeiro

safa-se as redes a bordo, safa-se as redes para outro barco, safam as redes os homens, safam as mulheres e os mais pequenos.

neste registo o carlos padeiro safa as redes para cima de um moliceiro atracado à marina.

na altura em que o fotografei o carlos teria 14 anos e já alguns de ria e de arte.

é assim na torreira nasce-se com a ria no sangue e o mar no coração

solheira – o safar das redes ou outra forma de dança


 

o massa a safar

atracada a bateira, vai o pescador descansar.

a madrugada e a manhã foram gastas no largar e no alar.

regressa depois de comer e começa a safar as redes.

uma das formas de safar as redes é dentro da própria bateira, e a
rede passa, por cima de uma vara, da ré para a proa enquanto se vai safando.

a dança que começou na ria para a ré, faz-se agora da ré para a proa.

o massa, em primeiro plano, é um homem de mar e de ria, de força e de trabalho, que canta com tanta alma quanto aquela que põe na faina.

(torreira; marina dos pescadores;2010 )

safar as redes, safar a vida (I)


 

salvador rilho (chalana)

o primeiro safar das redes começa no alar.

então se safam os peixes – chocos, linguados… – e se safam caranguejos, alforrecas e as algas maiores.

metro a metro, rede a rede, andar a andar, a rede vai-se acumulando junto à ré, entre o meio do barco e os pés do pescador.

sente-se que a beirada se aproxima da ria e o barco se torna mas pesado à medida que se ala.

depois, regressa-se à marina dos pescadores e outros dançares a rede fará.

na metade traseira do barco o seu primeiro passo

(torreira; 2010)

ti miguel bitaolra


abraço ti miguel

o bordão
agora apoio
do corpo cansado

o saco de plástico
os cigarros e o isqueiro
resguardados

o homem do mar
o ti miguel bitaolra
amigo de muitos anos
senta-se agora
na cadeira
da ti rosa
onde o mar escorre
e a companha se junta
para falar da safra
do futuro
do passado
beber um copo
jogar dominó
uma sueca

continuar viva

o lento caminhar dos dedos


o safar do salvador

 

sabes tu
que pensas tudo saber
o que sabem as mãos
e o que sabem fazer?

lentas, hábeis
acariciam as redes
safam-nas de algas
limpam-nas de limo
sem pressas de urbano

sabes tu
que tudo sabes
que tudo tem o seu tempo
e todo o tempo cabe
em duas mãos de trabalho
em duas mãos que cantam
odes à ria
erguendo no tempo
um templo
onde orar é outra forma
de pescar?

sabias tu?

as redes da solheira


 

 

salvador belo

 

admiro sempre
as mãos
a forma minuciosa
e terna
como tratam as coisas
mãos de trabalho
mãos de artista
mãos pacientes

com agulha
cosem as malhas
unem os fios
atam nós
fecham caminhos
abrem o haver
peixe afogado
dentro de água

meticulosamente
sem tempo de tempo de tempo
caminham percursos velhos
saberes antigos
as mãos
dos pescadores

(torreira – salvador belo)

xávega – o saco e a zorra


depois de se ter tirado todo o peixe do saco, de o limpar bem e sacudir é preciso carregá-lo na zorra ( espécie de trenó para areia), para o levar para seco, estendê-lo na areia e deixá-lo a secar.

depois de seco estará pronto a ser de novo carregado no barco (aparelhar) e a iniciar nova faina.

o transporte é sempre feito por recurso à zorra.

assim é na torreira, na praia de mira o esforço é feito por um tractor com um braço grande e colocado o saco num atrelado.

de praia para praia as técnica mudam. as designações também. falamos de designações, práticas e experiências que variam de praia para a praia, embora a arte de pesca seja a mesma e em pouco mudem os procedimentos

o saco e a zorra (I)

o saco e a zorra (II)

o saco e a zorra (II)

companha do pepolim


ir ao mar

vieram do furadouro pescar para os mares da torreira.

estabeleceram-se ao sul do molhe sul. o arrais, conhecido na torreira por “chico de ovar” é da família giesteira do furadouro, responsável pelo reerguer da xávega em medados do século XX na praia do furadouro.

o chico, não me canso de o repetir, é o melhor arrais que alguma vez vi trabalhar.