postais da ria (552)


uma bomba caiu
dentro do poema

palavras estilhaçadas
mortas irreconhecíveis
escorrem sangue

é branco o sangue
das palavras
soma de todas as cores
a paz também

uma bomba caiu
dentro do poema

há letras perdidas
desaparecidas
amputadas mortas

é negro o sangue
das letras
ausência de todas as cores
a guerra também

(por caminhos de lama e ria; torreira; 2010)

postais da ria (546)


mar becker

com as mãos
esgaravata o chão
labuta diária

pedras preciosas
simples seixos
torrões de terra

garimpa e semeia
ciranda e lavoura
trabalha muito

dia após dia
no aparente deserto
renasce mar

a poesia acontece
no silêncio da casa
e ilumina os dias

(solheira; safar redes; torreira; 2011)