a raiva acesa

quem foste tu
que hoje não és?
quem amava morreu
quem vive matou-me
quem fui eu
que não sei ser?
a mão sustém memória
dentro dela eu
a raiva acesa
nas pontas dos dedos
a raiva acesa
(torreira)
a raiva acesa

quem foste tu
que hoje não és?
quem amava morreu
quem vive matou-me
quem fui eu
que não sei ser?
a mão sustém memória
dentro dela eu
a raiva acesa
nas pontas dos dedos
a raiva acesa
(torreira)
da raiva

podem os homens
vencer o mar
ser o barco a casa
pode o mar calar
os homens
ouvir as mulheres
pode esta raiva
que trago no peito
salgar-me os olhos
enquanto pergunto
porquê
por muito pouco
que saibas do mar
saberás sempre
menos dos homens
fica a raiva a rugir
nas manhãs dos dias
breve anoitecidos
amarelecida espuma

(torreira; companha do marco; 2013)