os moliceiros têm vela (580)


Era uma vez o Barco Moliceiro

Em 2022 foi inscrito no Património Cultural Imaterial Nacional o Barco Moliceiro: Arte da Carpintaria Naval da Região de Aveiro , ou com “Outras denominações” : Construção e Pintura de Moliceiros; Construção do Barco da Ria de Aveiro.

Não é por acaso que o “Barco Moliceiro” aparece na designação da aprovação, ele é bandeira e ilusão. No descritivo apresentado e aprovado é dada grande relevância ao Barco Moliceiro e suas características, porém no último parágrafo pode ler-se:

Adaptações construtivas do Barco Moliceiro para a atividade turística: Com o desenvolvimento da atividade turística a partir do início dos anos 2000 registou-se um crescimento do número de embarcações existentes – depois da diminuição de barcos moliceiros verificada partir dos anos 50 (ver Doc1_ResenhaHistorica, pág.45) – tendo levado a alguns ajustes e a adaptações construtivas em prol da segurança dos turistas, por um lado, e para permitir a navegação nos canais urbanos da Ria de Aveiro, por outro. Importa, contudo, referir que todo o processo e método de construção de carpintaria naval do Barco Moliceiro, dinamizado pelos Mestres, se mantém fiel aos padrões originais, havendo apenas algumas alterações a nível de estrutura e tamanho, a saber: • Mastro – o mastro que sustenta a verga, onde prende a vela foi “retirado” para possibilitar a circulação das embarcações que navegam nos canais urbanos da Ria. • Falcas – as falcas, pranchas que se ligam, entre si, por justaposição e que se colocam no bordo do barco, são atualmente fixas para permitir que a embarcação tenha mais altura e por consequente maior segurança para os turistas. No passado eram amovíveis. • Assentos – para uma maior comodidade dos turistas durante os passeios foram introduzidos assentos em volta da embarcação. • Cavername – todas as cavernas são niveladas por forma a que o chão seja mais estável para a circulação de pessoas. • Método de propulsão – Andar à vela, andar à vara e andar à sirga deixaram de ser os métodos de propulsão do Barco Moliceiro mais utilizados na navegação, sobretudo, nos canais urbanos, tendo sido introduzido o motor como alternativa. • Tamanho da embarcação – de forma a servir o propósito para a atividade turística as construções são, por vezes, ligeiramente mais compridas e mais largas, ultrapassado os tradicionais 15m de comprimento de 2,50/2,60m de boca. De forma geral, e pese embora estas alterações, o Barco Moliceiro mantém uma estrutura muito similar à original, quer ao nível construtivo, quer decorativo.

(https://matrizpci.patrimoniocultural.gov.pt/InventarioNacional/DetalheFicha/818?dirPesq=0)

Espero que tenham lido a totalidade da transcrição porque ela aparece, estranho seria se assim não fosse, como último parágrafo de um documento extenso. Será para não ser lido?

Ou seja, a partir da inscrição no Património Cultural Imaterial Nacional em 2022, os barcos que circulam nos canais de Aveiro, passaram a poder ser designados por “Barcos Moliceiros”, facto que não é, nem será nunca, pacífico para os estudiosos e amantes do Barco Moliceiro.

Com a inscrição no Património Cultural Imaterial da Humanidade em 2025, dia 09 de Dezembro para ser mais exacto, esta designação passa a ser reconhecida pela UNESCO, e ai de quem diga que não há Moliceiros nos canais de Aveiro.,

A farsa foi levada ao palco do país, e agora da humanidade, com o aplauso dos autarcas da CIRA e, nomeadamente, dos autarcas que reivindicam ser a sua terra a pátria do Moliceiro. Soltem-se foguetes, faça-se notícia e prepare-se o funeral do Barco Moliceiro que a ria conheceu.

(moliceiros; regata do s. paio; torreira; 2017)

no jornal online “Notícias de Aveiro”

postais da ria (565)


NÃO
assim em maiúsculos inusuais
como um grito de revolta
pedrada nas janelas dos dias

NÃO
assim em maiúsculos inusuais
como um grito de revolta
pedrada nas janelas dos dias

NÃO
posso calar tudo o que dentro
de mim ferve e se impõe
contra o silêncio a prepotência

NÃO
o ter armas poder dinheiro NÃO
tem força de lei mas sim
marginais loucos engravatados

NÃO
aceito a conversão de dólares
em crianças assassinadas
o lucro cego pago com sangue

NÃO
chamem-me perigoso terrorista
escrevam o meu nome
a vermelho mas ESCREVAM que

NÃO me verguei nunca

NÃO
ao GENOCÍDIO em GAZA
ao governo de netanyahu
NÃO à GUERRA SIM à PAZ

PALESTINA LIVRE

(regata de bateiras à vela; s. paio; torreira; 2017)

os moliceiros têm vela (575)


hoje é dia de s. paio

os cisnes da ria poisam e voam
sobre a lisura das águas

livres de gabinetes e cálculos
de enganos elaborados
por mandantes e candidatos

é hora de vender gato por lebre
é tempo há muito tempo
de semear ilusões e colher pelouros

os moliceiros são o colorido da ria
onde negros corvos
fazem falsas promessas colhem votos
cargos futuros euros

os cisnes da ria livres e belos
nunca serão património nacional
sequer da humanidade nunca

os cisnes da ria são moliceiros inteiros
homens e barcos fundidos
na herança na tradição e no sonho

os cisnes da ria poisam e voam
sobre a lisura das águas
ignoram o cinismo são emblema

(regata de moliceiros; s. paio; torreira; 2017)

postais da ria (560)


os bárbaros vestem-se de automóveis oficiais 
seguranças aviões têm casa em paraísos fiscais

os bárbaros assassinam friamente
em nome do deus do dinheiro
sacrificam o futuro à ganância efémera

os bárbaros caminham sobre corpos
esfacelados de crianças mortas
de fome de tiro certeiro de estilhaços

os bárbaros apertam mãos abraçam
recolhem apoios de gente aparentemente limpa
com valores escondidos nos bolsos

os bárbaros mandam comandam fazem
comem em mesa farta e nada vêem para além
do prato cheio regado a sangue inocente

os bárbaros são presidentes eleitos governam
ditam leis aprovam decretos e orçamentos de guerra
fracos os cúmplices calam consentem e sorriem

os bárbaros roubam com um sorriso cândido
iludem-se patrões de um mundo sociedade anónima

os bárbaros morrerão e o seu legado será
destruição e morte negação de humanos terem sido

(corrida de chinchorras a remos; s. paio; torreira; 2018)